Título: Economia europeia à beira da recessão
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2011, Economia, p. B1

Comissão Europeia corta previsão de crescimento de 2012 de 1,8% para 0,5% e FMI alerta para risco de década perdida na economia mundial

A austeridade na Europa coloca o bloco a caminho de uma "profunda e prolongada" recessão, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) apela para que políticos europeus adotem uma estratégia para superar a crise da dívida, sob o risco de levar o mundo a uma "década perdida".

A Comissão Europeia (CE) admitiu ontem que o continente parou e, em 2012, várias economias da região voltarão a se contrair. O bloco ficará à beira da recessão, não haverá criação de emprego e a dívida se acumulará. Em seu relatório semestral, a CE escancara o fato de que o pior na zona do euro ainda não chegou.

Para 2012, a melhor das previsões para a Europa é de praticamente uma estagnação, com expansão de apenas 0,5%. Não haverá criação de empregos. Há apenas seis meses, a previsão era de uma alta de 1,8% do PIB.

Enquanto os novos números eram apresentados em Bruxelas, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, pedia "esclarecimentos políticos" de Grécia e Itália, para que a crise da dívida comece a ser tratada logo. "Se a Europa não lidar com seus problemas de forma ampla, o mundo pode enfrentar uma década perdida", alertou.

A perda de confiança dos mercados e o terremoto financeiro ajudaram a aprofundar a crise. Mas foram os pacotes de austeridade que abafaram o crescimento na região. Segundo a UE, governos deixaram de investir e o consumo interno despencou.

"Essas previsões são os últimos alertas que podemos fazer. O crescimento parou na Europa e a economia pode cair numa nova fase de recessão", afirmou o comissário de Economia da UE, Olli Rehn. Segundo ele, há um círculo vicioso entre dívidas do governo, bancos vulneráveis e um colapso nos gastos privados.

Rehn disse que a fragilidade do setor financeiro sugere a contenção do crédito, o que pode aprofundar ainda mais a crise. Segundo ele, "empresas vão cancelar ou adiar investimentos."

Grécia. Quem mais sofrerá são os países resgatados pela UE, já que os acordos preveem medidas drásticas de cortes. Grécia e Portugal voltarão a ter quedas em suas economias. A Grécia terá um recuo de 5,5% do PIB neste ano e mais 2,8% em 2012. Hoje, já soma seis trimestres consecutivos de recessão. Portugal termina o ano com queda de 1,9% do PIB e mais 3% no próximo ano.

A Itália também corre o risco de entrar em recessão no início de 2012, antes mesmo de começar a cortar gastos. Em 2011, crescerá apenas 0,5%. Em 2012, o melhor cenário é de 0,1% de expansão. Mas, entre o atual trimestre e março de 2012, a Itália sentirá uma retração de 0,3%.

O freio na economia europeia afetará também as duas maiores economias. A Alemanha terminará o ano com expansão de 2,9%, mas em 2012 ficará com apenas 0,8%. A França passará de 1,6% para 0,6%, ficando perto de uma recessão neste fim do ano, taxa similar à da Espanha.