Título: A França entra na zona de risco
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2011, Economia, p. B3

A zona do euro vai sendo demolida aos poucos. Ontem, um novo país entrou na zona de risco: a França, que dá lições a todo o mundo e cujo presidente, durante o G-20, distribuiu sopapos ao grego Papandreou e ao italiano Berlusconi, antecipando a sua agonia.

Por que a França? Os mercados, que se regalaram com Roma e Atenas, estão famintos. E dirigem agora as "máquinas de desejo" para a França. Na manhã de quinta-feira, a diferença entre as taxas francesas e alemãs sobre títulos de dez anos chegou a 1,64 ponto porcentual (em maio era de 0,3). No momento, as agências de classificação mantêm a nota AAA da França, mas a nota está condenada. Para desespero de Sarkozy.

E pior. O crescimento da França está em queda. De início, a projeção era de 1,75%. Depois, 1%. Hoje, a expectativa é de 0,6% e alguns falam em zero. Mas a França não está sozinha no tobogã. Toda a Europa está a caminho da recessão.

A Europa descobre assim que o método Sarkozy-Merkel é ruim. Esses planos de socorro trágicos, de impor medidas de rigor violentas, há muito tempo os "espíritos simples" sabiam que eram estúpidos. Hoje, os fatos lhes dão razão.

Uma ideia nova, contrária à gestão Sarkozy-Merkel, nasceu há 24 horas.

Por que o Banco Central Europeu (BCE) não assume o papel de instituição de empréstimo, em última instância, para os países endividados? O benefício de tal decisão é que o BCE poderá imprimir moeda. Os perigos de uma reforma como esta são grandes.

A Europa, devastada pela desordem e pela ordem ao mesmo tempo, pelo laxismo e pela austeridade, utilizaria esse novo BCE para fazer montanhas de papel-moeda, reabrindo o caminho mortal da inflação. Seria necessário adotar, em paralelo, medidas drásticas para deixar claro que o banco não garantirá dívidas de países irresponsáveis.

Mesmo com precauções, seguranças e códigos "de boa conduta", uma transformação como esta será repleta de incógnitas. Mas uma coisa é certa: o método absurdo imposto por Sarkozy e Merkel conduziu o continente à desgraça. Chegou a hora da audácia e da imaginação. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO