Título: Ato oficial reúne milhares por royalties
Autor: Rodrigues, Alexandre ; Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2011, Economia, p. B12

Governo do Rio mobiliza cerca de 150 mil pessoas, com ponto facultativo nas repartições e caravanas organizadas por prefeituras do interior

Determinados a evitar a divisão dos royalties da produção de petróleo, o governo do Estado do Rio e as prefeituras fluminenses assumiram o caráter "oficial" da passeata que parou ontem o centro carioca. A manifestação convocada pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) é também uma forma de pressionar a presidente Dilma Rousseff a intervir nas negociações e não sancionar o projeto que muda a divisão dos royalties, aprovado pelo Senado, caso ele passe na Câmara.

Cabral não tem escondido o descontentamento com Dilma e, sempre que toca no assunto, lembra que ela teve votação de 70% no Rio. O governador e prefeitos patrocinaram abertamente a ida de boa parte dos cerca de150 mil manifestantes (nas estimativas do governo) à Cinelândia, onde um show foi realizado após marcha pela Avenida Rio Branco. Cabral não disse quanto dinheiro público foi gasto.

Em entrevista, ele reafirmou que Dilma, em campanha em Vitória no ano passado, assumiu, na condição de candidata à Presidência da República, que vetaria a redistribuição dos royalties, caso ela fosse aprovada no Congresso Nacional.

"Tenho certeza absoluta que ela vai vetar, porque ela é uma democrata, não vai permitir. É um precedente muito perigoso. Abre uma brecha de violação de direitos muito grave", disse ele.

Ponto facultativo. Milhares de pessoas encheram a Cinelândia e o trecho da Avenida Rio Branco que a acompanha. Cabral chegou a dizer que seus assessores avaliavam a multidão em 200 mil.

As repartições públicas estaduais e municipais na capital tiveram ponto facultativo e várias empresas foram incentivadas pela Federação das Indústrias do Rio (Firjan) a liberar os funcionários.

Até a Agência Nacional de Petróleo (ANP), responsável pela regulação e recolhimento dos royalties, dispensou os empregados às 13h. Outras instituições federais, como o Inmetro, seguiram o exemplo. A Petrobrás, que tem sede na região, não liberou os funcionários.

O ato teve a participação de artistas. A atriz Cissa Guimarães foi a apresentadora. "Ninguém vai tirar nada da gente", gritou. Fernanda Montenegro leu o "Manifesto do Rio", que dizia que o debate dos royalties "é uma batalha por justiça".

Quentinhas. A cidade de Macaé, no norte fluminense - sede da maior parte da indústria que explora o petróleo na Bacia de Campos - enviou 7 mil pessoas em 180 ônibus. Eles enfrentaram cinco horas de viagem alimentados com quentinhas e sanduíches distribuídos pela prefeitura.

Em esquema parecido, a vizinha Campos dos Goytacazes estava preparada para enviar 4 mil manifestantes, mas houve reclamações de que o governo do Estado teria mandando menos ônibus do que os cem prometidos. Também houve adesão de prefeitos aliados de Cabral na baixada fluminense.

Manifestantes de Quissamã (norte fluminense) usavam camisetas cobrando a manutenção do caráter compensatório dos royalties na inscrição: "O impacto é nosso, os royalties também".

Servidores de Macaé contaram que o prefeito Riverton Mussi condicionou o ponto facultativo ao embarque nos ônibus em direção ao Rio. Quem faltasse à passeata ou ao trabalho teria o dia descontado. Estudantes de colégios estaduais também falaram que foram orientados pelos diretores a trocar as aulas pelo ato.

No Rio, as passagens de trens, barcas e metrô foram liberadas. As concessões das empresas que exploram os transportes públicos foram renovadas por Cabral. A concentração estava marcada para as 15h, mas já no fim da manhã o trânsito foi desviado e agentes com coletes da Secretaria de Governo distribuíam bandeiras, bonés e camisetas.

Centenas de banheiros públicos foram espalhados pela centro da cidade.

O ambiente era de carnaval fora de época, com ambulantes vendendo cerveja, carros de som tocando sambas-enredo, bandeiras e chuva de papel picado./ COLABORARAM IRANY TEREZA e KELLY LIMA