Título: Itália vota pacote que encerraria era Berlusconi
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2011, Internacional, p. A16

Favorito para substituir premiê, Mario Monti já se reuniu com presidente do Banco Central Europeu para traçar uma estratégia que tire o pais da crise

A Itália e a União Européia se preparavam ontem para o fim do governo de Silvio Berlusconi e para estabelecer uma estratégia que impeça a crise jogar o bloco em um abismo. Enquanto em Roma o futuro do país era decidido pelo Parlamento, que se preparava para votar o novo orçamento marcado pela austeridade, líderes europeus se esforçavam para garantir aos mercados que a Itália não será abandonada. Temendo processos por fraude e sonegação, Berlusconi ainda insistia em fazer exigências e garantir uma blindagem antes de entregar o poder. Depois de passar pelo Senado, o pacote de austeridade que prevê cortes de 60 bilhões de euros no orçamento italiano seria votado ontem pela Câmara de Deputados. Após a votação, Berlusconi faria o que havia prometido e deixaria o poder, depois de quase duas décadas sendo um dos pilares da política italiana e de ocupar a chefia do governo em três ocasiões. A esperança de Bruxelas era de que a aprovação do pacote e a substituição do primeiro-ministro permitissem que os mercados abrissem na segunda-feira com alguma garantia de que a I tália estava comprometida a reduzir seu déficit de l;W% do PIE. Acesso a crédito. A reforma prevê a venda de ativos do estado em US$ 21 bilhões, aumentar a idade mínima de aposentadorias para 67 anos em 202.6, liberalizar o mercado trabalhistas e promover uma reforma da administração pública. IA UE teme que, se a Itália for engolida pela crise e não tiver acesso a créditos, não haverá fundos suficientes para socorrê-la e o impacto político seria de tal proporção que apenas o fim do euro seria a solução. Diante da pressão dos mercados,a UE e políticos italianos optaram por acelerar a renúncia de Berlusconi. Ontem, uma comissão de deputados já havia aprovado o novo orçamento e o voto seguia para o plenário. A previsão era de que Berlusconi, em seguida, fosse ao Palácio Quirinale entregar a Giorgio Napolitano sua renúncia. A decisão de acelerar a renúncia, a aprovação dos pacotes e a nomeação de um novo governo agradou os mercados na sextafeira. O risco país da Itália tam" bém caiu, depois de chegar a níveis comparáveis aos de Grécia, Irlanda e Portugal quando foram resgatados. O favorito para substituir Berlusconi é Mario Monti. Reitor da prestigiosa Universidade Bocconi, Monti já foi comissário da UE e é a pessoa de confiança de Bruc xelas. Ontem, ele se reuniu com o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, para começar a desenhar uma estratégia que tire a Itália da crise o mais rapidamente possível. Outro sinal de que um acordo se aproximava foi o almoço entre Berlusconi e Monti, ontem, também considerado como parte da transição. A ideia seria o estabelecimento de um governo técnico, liderado por Monti. Berlusconi, porém, ainda tentava colocar algumas condições. Uma delas seria a de que Monti aceitasse o atual subsecretário -da presidência, Gianni Letra, em seu gabinete. Letra é o braço direito do premiê e seria uma formade garantir que o novo governo não lidere uma campanha contra o antigo governo. Líderes europeus, como Nicolas Sarkozy e Ângela Merkel, também apoiam Monti. Ontem, Sarkozy informou a Napolitand que estava disposto a viajar com a chanceler alemã até Roma para mostrar ao mundo que a Itália não seria abandonada . . Oposição. No entanto, nem todos estão de acordo com seu nome.A Liga Norte, partido que faz parte da base da coalizão de governo, declarou ontem que passaria à oposição, o que significaria que Monti certamente teria dificuldades para aprovar as medidas de austeridade. O movimento Itália dos Valores também não gostam da mudança e membros do próprio partido do premiê não veem um tecnocrata como a solução. Para os conservadores, a Itália deve realizar eleições, e não formar um governo de técnicos teleguiados por Bruxelas. "Precisamos ir às urnas", disse Altero Matteoli, ministro dos Transporte. "Os mercados não podem definir governos." Em Bruxelas, a avaliação era diferente. De acordo corria DE, a Itália não precisa de eleições, mas sim a da aprovação urgente do pacote de reformas para lidar com sua dívida pública de 1,9 trilhão de euros.