Título: Bancos rejeitam perdão de 50% na dívida da Grécia
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2011, Economia, p. B14

Instituto Internacional de Finanças não aceita ir além dos 21% de redução das obrigações soberanas de Atenas

Representantes do sistema financeiro e credores da Grécia intensificaram a pressão contra o aumento do hair cut, o corte de 50% na dívida soberana de Atenas. A hipótese é discutida pela União Europeia (UE) na "estratégia global" que Alemanha e França propõem para superar a crise no bloco. Liderados pelo banco BNP Paribas e pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF), os investidores tentam influenciar nas decisões antes do G20 de Cannes, em novembro.

Dirigentes de bancos europeus demonstram insatisfação em relação às discussões em curso em Bruxelas. Na terça-feira, o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, coordenador do fórum de ministros de Finanças (Ecofin), afirmou que a União Europeia de fato discute o aumento do corte da dívida grega, dos 21% acertados em 21 de julho, para 50% ou até 60%. A decisão deve ser tomada até 23 de outubro, quando acontecerá a cúpula do Conselho Europeu.

Preocupados, representantes do IIF reuniram-se com o governo da França. A discussão era até então mantida nos bastidores, mas tornou-se uma queda de braço entre governos e bancos europeus. Na sexta-feira, em declarações ao Financial Times, Chales Dallara, diretor do IIF - órgão que reúne 440 instituições financeiras -, afirmou que os investidores não aceitam a elevação do hair cut de 21% para 50%. "Acordo é acordo."

Dallara insinuou ainda que, caso o aumento do corte se confirme, os mecanismos de seguro - os credit default swaps (CDS)- podem ser usados para cobrir parte das perdas. Nesse caso, o hair cut não será classificado como um perdão "voluntário" da dívida, mas como um default parcial, já que o uso dos CDS é um dos critérios que leva as agências de rating a apontar a situação de default de pagamento.

Alemanha e Holanda lideram o movimento pelo aumento do corte da dívida grega, mas França e o Banco Central Europeu (BCE) temem um "evento de crédito" que possa causar rebaixamento em cadeia dos títulos da dívida soberana de outros países em crise de credibilidade, como Portugal, Itália e Espanha. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, recusou as pressões. "É preciso reconhecer que certos parâmetros de 21 de julho precisam ser revistos", argumentou. "As condições do mercado mudaram."

Ontem, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, lembrou que o sistema financeiro está reagindo também à recapitalização desejada pela União Europeia. "Os bancos têm reagido, sim. Não é surpresa. Os bancos não querem caminhar para Basileia III neste momento", disse Mantega, referindo-se às normas prudenciais definidas pelos presidentes de bancos centrais no Banco de Compensações Internacionais (BIS). / A.N.