Título: Ministros do G-20 decidem adiar decisão sobre FMI
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2011, Economia, p. B14

Estados Unidos travam acordo no encontro realizado ontem em Paris para discutir o aumento de recursos do fundo

Ministros de Finanças e presidentes do banco central do G-20, reunidos ontem em Paris, não conseguiram fechar acordo sobre a necessidade de recapitalizar o Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos instrumentos essenciais para socorrer a Europa e o sistema financeiro em caso de agravamento da crise.

Na prática, os governos adiaram a decisão para a cúpula do G-20 de Cannes, em novembro, porque EUA e Japão demonstram resistência ao projeto. Sobre o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o acerto ficou mais perto.

A reunião ministerial do G-20 foi o último encontro de alto nível realizado antes da cúpula do grupo, marcada para 3 e 4 de novembro, em Cannes, na França. Ontem, depois de mais uma maratona de negociações, os ministros não chegaram a um consenso sobre se os dois fundos devem mesmo ser recapitalizados ou não. As cifras especuladas em Paris eram de até € 2,5 trilhões para o FEEF e mais US$ 390 bilhões para o FMI - mas nem uma, nem outra foi confirmada.

Na recapitalização do fundo europeu, apenas países da zona do euro participarão. Segundo o ministro de Economia da França, François Baroin, o tema está bem encaminhado. "Avançamos com o Ministério de Finanças da Alemanha e há uma concordância muito grande entre os dois países", reiterou, referindo-se à "estratégia global" com a qual a Europa pretende debelar a crise na Grécia e evitar o contágio do sistema financeiro, recapitalizando seus bancos.

O ministro também não entrou em detalhes sobre o tamanho do corte - hair cut - da dívida da Grécia, estabelecido em 21%, mas que pode superar os 50%. "Só não vamos anunciar nada hoje para respeitar os prazos e as atribuições dos chefes de Estado e de governo."

Já sobre a injeção de recursos no FMI, as divergências se fizeram notar. Durante a semana, países emergentes, liderados pelo Brasil e pela China, defenderam a recapitalização do fundo - o que pressuporia a redistribuição do poder na direção da instituição. Essa questão incomoda os governos dos EUA, do Japão e da Alemanha, contrários à medida. Mas Baroin afirmou que existem chances de acordo até o G-20 de Cannes. "Há uma larga convergência sobre a necessidade de adaptação dos recursos. Será necessário responder presente se as circunstâncias assim exigirem", disse o ministro.

Sobre as restrições americanas a respeito do aumento dos recursos do fundo, Baroin foi claro. "Nós conhecemos a posição americana. Eles não são os únicos", reconheceu. Apesar disso, o tema segue na pauta de negociações. Questionado pelo Estado, porém, Baroin disse que temas sensíveis, como as modalidades do aumento de capital do fundo não foram discutidas. "Não houve debate sobre as modalidades. Esse debate existe, nós conhecemos a posição dos emergentes, mas não discutimos valores, nem as modalidades desse alargamento."

No G-20 de Londres, em 2009, industrializados e emergentes concordaram no aumento de capital do FMI de US$ 250 bilhões para US$ 1 trilhão, pela redistribuição das cotas do fundo - o que, na prática, define o peso de cada país na instituição. A intenção do Brasil, por exemplo, seria repetir a modalidade de aumento de capital, mas as resistências agora são maiores.

Fluxo. Outro ponto de interesse direto do Brasil diz respeito ao controle de fluxo de capitais - que geram pressão direta sobre o câmbio. O governo brasileiro é a favor do controle - como o uso do IOF -, mas é contra a criação de normas internacionais. Nesse sentido, os interesses do Brasil foram atendidos. O comunicado do G-20 foi genérico e não menciona a possibilidade de criação de uma regulamentação internacional a respeito. "Os países emergentes se esforçarão para reforçar suas capacidades de enfrentar a volatilidade dos fluxos de capital."

Indagado sobre o assunto, Baroin esclareceu: "Sobre o fluxo de capitais, o comunicado é ao mesmo tempo uma mensagem ampla e um código de conduta". O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, foi além. O G-20, disse, "deu a liberdade para que os países que se sentem incomodados possam fazer intervenções pontuais". "As práticas brasileiras são reconhecidas e podem ser adotadas por outros países para regular o fluxo de capitais", comemorou.