Título: Governo revê previsões de alta do PIB e estuda medidas para aquecer economia
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2011, Economia, p. B1

Crise na Europa se acentua e projeção oficial de crescimento para este ano recua de 4,5% para 3,8% e para o ano que vem de 5% para 4%

Diante do recrutamento da crise na Europa, a área econômica do governo já trabalha internamente com taxas de crescimento mais modestas do que os otimistas 4,5% projetados para este ano e os 5% esperados em 2012. Para o ano que vem, o número usado pela área técnica é de 4%.

Para 2011, a taxa está em 3,8%. São, ainda assim, estimativas maiores que as do mercado financeiro, que trabalha com 3,16% este ano e 3,5% em 2012.

Essa perspectiva mais fraca, porém não agrada ao governo. Se para este ano a partida está praticamente decida, para 2012 ainda há espaço de manobra para tentar melhorar o desempenho da economia.

Todo o esforço do governo nos últimos dias foi centrado em fortalecer o consumo e o investimento para manter a economia aquecida mesmo diante do quadro de longa retração que se consolida no mundo desenvolvido. A presidente Dilma Rousseff deu a deixa na semana passada, ao afirmar que "nossa pauta é outra".

Na sexta-feira, o Banco Central anunciou um conjunto de medidas para aumentar a oferta de crédito para compra parcelada de automóveis e outros bens, em operações de até 60 meses. Também foi surpresa a idéia de exigir que, a partir de dezembro, os consumidores pagassem pelo menos 20% do valor da fatura do cartão de crédito, em vez dos 15% exigidos atualmente. Estão em estudos outras medidas para facilitar os empréstimos.

Simples. Na véspera, a presidente Dilma Rousseff havia sancionado a nova Lei das Micro e Pequenas Empresas, que na prática dará a elas mais fôlego para crescer. Isso porque uma microempresa poderá faturar até R$ 360 mil anuais que continuará enquadrada no Simples, pagando menos tributos. Para as pequenas empresas, o limite aumentou para R$ 3,6 milhões.

Dilma também permitiu que Estados tomem novos empréstimos para investir. Em duas semanas, governadores de 17 unidades da federação foram autorizados a contratar R$ 37 bilhões em financiamentos. Eles estavam impedidos de faze-lo por causa do programa de ajuste fiscal que se comprometeram a seguir, com monitoramento do Tesouro Nacional.

Há expectativa também que o Tesouro faça até o fim do ano mais um aporte de recursos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ampliando a oferta de crédito para as empresas. O governo está autorizado a repassar até R$ 55 bilhões em 2011, dos quais já transferiu R$ 30 bilhões.

A taxa de crescimento de 4% para 2012, porém, não deverá ser adotada de imediato nas contas oficiais, para não criar mais problemas na tramitação do Orçamento. Isso porque uma expansão mais fraca da economia tem como conseqüência uma redução na projeção da arrecadação.

E, com menos receitas disponíveis, será ainda mais difícil manter o equilíbrio da peça orçamentária.

A taxa de 3,8% para este ano poderá figurar no relatório bimestral de contas federais, a ser divulgado nos próximos dias. Há, porém, a possibilidade de o número ser alterado ligeiramente para cima. De qualquer forma, a nova projeção não deverá modificar de forma importante a trajetória das receitas e despesas federais este ano.