Título: Monti anuncia governo de tecnocratas
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2011, Economia, p. B13

Primeiro-ministro italiano vai acumular o Ministério da Economia e outro ministro vai cuidar do crescimento; perfil técnico afasta políticos

Mario Monti, o novo primeiro-ministro da Itália, apresentou ao presidente Giulio Napolitano a composição de seu gabinete, ontem, em Roma, assumindo oficialmente o poder. A surpresa do anúncio é que o próprio premiê, economista e ex-comissário de Competição e de Mercado Interior da União Europeia, nomeou-se para o cargo de ministro da Economia.

A decisão reforça a opção por um governo de técnicos, do qual os líderes políticos dos partidos mais tradicionais ficaram fora. No anúncio dos membros do gabinete, o primeiro-ministro ressaltou que assumirá o Ministério da Economia interinamente, enquanto durar a crise.

Entre os 17 mais importantes nomes do novo governo, salta os olhos o perfil tecnocrático. Monti optou pela criação de uma segunda pasta de finanças, o Ministério do Desenvolvimento Econômico, das Infraestruturas e dos Transportes, cargo para o qual escolheu o ex-diretor-geral do banco Intesa San Paolo, Corrado Passera.

Apelidado de "dottore" e "professore", Corrado será o número 2 de um governo que enfatiza a administração econômica, a qualificação acadêmica e o currículo de seus membros. A ideia é não apenas qualificar a gestão pública, mas romper com as práticas do ex-premiê Silvio Berlusconi, que nos bastidores chamava técnicos de "cabeças de ovo".

"A ideia é reforçar o coração da economia real com uma atenção maior e uma maior coesão social", afirmou Monti em seu discurso, dirigindo as medidas para "iniciativas coordenadas para estimular o crescimento econômico".

O novo premiê optou por não convidar políticos de destaque nos partidos da base aliada. "A questão não é saber se as pessoas são boas, mas se eles terão o apoio do Parlamento", advertiu à agência France Presse o economista Gianluca Spina, professor do Departamento de Engenharia de Gestão do Instituto Universitário Politécnico de Milão.

Mas, pelo menos em um primeiro momento, apoio político interno não parece lhe faltar. Durante as discussões para formação do gabinete, Monti negociou o apoio de sindicatos patronais e de trabalhadores, além de obter amplo suporte no Parlamento. Só na Câmara de Deputados, 400 dos 630 membros lhe declararam apoio - sem precisar contar com o partido de extrema direita Liga Norte, que passa à oposição. Além disso, pesquisas indicaram que 53% da população tem expectativa positiva ou muito positiva com o novo governo.

O primeiro desafio de Monti à frente da Itália é reconquistar a confiança perdida dos mercados na capacidade do país de honrar a sua dívida - hoje na casa de € 1,9 trilhão, ou 121% do Produto Interno Bruto (PIB). O objetivo mais imediato é reduzir a pressão sobre os títulos da dívida soberana do país, cujo rendimento superou os 7% na semana passada - índice que levou Grécia, Irlanda e Portugal a recorrer ao socorro da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ontem, as obrigações com validade de dez anos estavam sendo negociadas a 6,77%, ou 0,16 ponto de baixa.

Outra missão do gabinete de Monti é implementar as medidas do plano de austeridade aprovado pelo Parlamento no fim de semana. O programa prevê cortes de € 60 bilhões em três anos com o objetivo de alcançar as metas europeias de déficit público - máximo de 3% do PIB - em 2013.

Coincidência ou não, no dia da apresentação do gabinete de Monti as bolsas de valores deram trégua à Europa. Ontem, dos principais índices do continente, apenas o DAX, comercializado na bolsa de Frankfurt, e o FTSE100, de Londres, ficaram no negativo: 0,33% e 0,15%, respectivamente. Paris e as demais grandes bolsas do bloco subiram entre 0,5% e 1%.

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