Título: Fracassa na Grécia formação de um governo de união
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2011, Economia, p. B3

Primeiro-ministro George Papandreou não conseguiu fechar um acordo com as demais forças políticas para escolha do sucessor

O que deveria ser a solução para uma crise se transformou em pesadelo político. Quatro dias depois de anunciar que formaria um governo de união nacional e renunciaria, o primeiro-ministro grego, George Papandreou, não conseguiu ontem fechar um acordo com as demais forças políticas, e a negociação para a formação de um governo de união nacional fracassou.

A oposição abandonou a reunião que definiria o nome do novo chefe de governo e escancarou que, se a Grécia ainda não está quebrada financeiramente, a falência política é evidente.

Para a União Europeia (UE), quanto mais tempo a Grécia levar para aprovar um novo governo, maiores serão as dúvidas do bloco em relação ao compromisso de Atenas em aplicar as exigências de Bruxelas para receber dinheiro e não quebrar. Hoje, a dívida grega chega a 180% do Produto Interno Bruto (PIB).

No domingo, Papandreou cedeu às pressões da UE e decidiu renunciar para dar lugar a um governo de coalizão que tivesse a capacidade de fazer passar o pacote de austeridade exigido por Bruxelas. Sem esse pacote, a UE não vai liberar os recursos prometidos e sem dinheiro, a partir de meados de dezembro, a Grécia simplesmente vai a falência.

A decisão de Papandreou de ceder seu lugar, portanto, foi aplaudida por Angela Merkel, a chanceler alemã. Mas ontem, em Atenas, a negociação para a formação do novo governo entre a oposição conservadora e o partido socialista afundou.

A confusão começou pela manhã. Papandreou ligou para o presidente francês, Nicolas Sarkozy, para comunicá-lo que ainda ontem a Grécia teria um novo governo. À tarde, ele entrou em rede nacional para entregar o cargo. "Evitamos a quebra e asseguramos a estabilidade do país. Desejo sucesso ao novo primeiro-ministro."

Saga. De lá, Papandreou seguiu para um encontro com o presidente da República, Karolos Papoulias, que parecia marcar o fim da saga, com o chefe de Estado se dizendo "aliviado". O problema é que as horas se passaram e o nome do novo chefe de governo continuava uma incógnita. Um novo acordo de fato havia sido atingido e o escolhido para liderar o novo governo era Filipos Petsalnikos, presidente do Parlamento, socialista e amigo íntimo de Papandreou.

A decisão representava uma reviravolta aos acordos fechados nos últimos dias, que indicavam que já havia um consenso em torno do nome de Lucas Papademos, um tecnocrata e aliado de Bruxelas. Papademos chegou a abandonar o curso que estava dando na Universidade Harvard - ironicamente chamado de "A crise financeira e desafios políticos" - para retornar a Atenas.

Mas ele se recusou a aceitar o posto ao ser informado que a oposição conservadora só lhe daria 100 dias para fazer passar as medidas de austeridade mais profundas em 40 anos e implementá-las.

A solução foi apelar a Petsalnikos. Mas foi a vez dos socialistas no governo anunciarem que se oporiam ao amigo de Papandreou. Não ajudou a ironia que fazia a imprensa. O suposto escolhido é casado com uma alemã, o que dava espaço para que o novo governo fosse chamado de "o governo alemão da Grécia".

Não demorou para que a alternativa levasse a negociação a um novo impasse e a oposição decidiu abandonar o processo, pelo menos até ontem. O quarto maior partido do país, o Laos, também abandonou as negociações em protesto à indicação de Petsalnikos.

Os socialistas acusam a oposição de Antonis Samaras de ser o real motivo do impasse, pois seria ele quem teria forçado a data de 19 de fevereiro para a realização de eleições. Isso, na prática, impediu Papademos de assumir.

Ontem, os partidos decidiram convocar mais uma reunião para tentar superar o impasse, enquanto Samaras insiste que seu partido "não será o obstáculo".

Diante do caos, a pressão da UE é cada vez maior. Além de exigir a formação de um novo governo, Bruxelas quer que os dois maiores partidos assinem uma carta se comprometendo com políticas de austeridade.