Título: Assad governa com mão de ferro por causa da segurança
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2011, Internacional, p. A18

Partidários de líder sírio no Brasil afirmam que Síria "só poderá ter democracia quando houver paz" na região

Eduardo Felício Elias e Rezkalla Tuma declaram não acreditar que fundamentalistas islâmicos possam tomar o poder na Síria, com a eventual queda de Bashar Assad. "Hafez Assad (pai de Bashar, que assumiu em 1970 e morreu, ainda no poder, em 2000) eliminou isso", disse Tuma. Esse talvez seja o único ponto de concordância entre os oposicionistas e os governistas ouvidos pelo Estado. Para a oposição, Assad, assim como Zine Abidine Ben Ali, na Tunísia, Hosni Mubarak, no Egito, e Muamar Kadafi, na Líbia, usou a cartada da ameaça islâmica para amedrontar o Ocidente e justificar seu regime ditatorial.

Embora apoiem Assad, Elias e Tuma concordam que seu regime é ditatorial, mas dizem que a Síria não pode ter democracia por causa do conflito com Israel, que desde 1967 ocupa as Colinas do Golan, território sírio. "Assad governou com mão de ferro por causa do problema da segurança", analisa Rezkalla, irmão do senador Romeu Tuma, morto há um ano. "A Síria só pode resolver esse problema se houver paz."

Elias e Tuma consideram que os Estados Unidos exercem uma influência perversa sobre a região. Eles estão felizes com a posição do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, no qual tem resistido à aprovação de sanções contra a Síria. "O governo brasileiro tem seguido uma linha muito boa, muito justa", diz Elias. "O Brasil, como líder, e os demais países do Bric (Rússia, Índia e China) são os únicos que podem ajudar, e muito, na solução do problema sírio. A própria oposição confia muito no Brasil." E há a comunidade árabe no Brasil, a maior fora do mundo árabe, segundo Elias, que soma cerca de 12 milhões de pessoas e é composta principalmente por libaneses e sírios.

Já os oposicionistas ouvidos pelo Estado se exasperam com a posição do Brasil. "Ficamos surpresos com a abstenção do Brasil", disseram Ehab e Mohammed. "A presidente Dilma Rousseff dá prioridade aos direitos humanos, e o que acontece na Síria vai contra tudo o que se refere a eles." Ehab conta ter sido ameaçado de morte.

Na última de suas seis manifestações, dia 24 de julho, os oposicionistas mandaram um recado para a presidente, com camisetas que diziam, na frente: "Dilma, por favor, ajude o povo sírio". E, nas costas: "Você já passou por isso", referindo-se a seu passado de militante contra a ditadura militar, presa e torturada.

Ehab e Mohammed acham que não há o que negociar com Assad, e seu regime ficaria mais próximo de entregar o poder se perdesse o apoio de países como o Brasil, a Rússia e a China. Mas essa posição não é consenso. "As negociações intermediadas por forças equilibradas continuam sendo a melhor opção na Síria", opina o jornalista sírio Tammam Daaboul, editor do portal Arabesq em São Paulo. "O Brasil deve abandonar a passividade, que ameaça seus interesses diante da opinião pública dos mundos árabe e islâmico, e deve jogar um importante papel político, já que ainda conta com o respeito bilateral, salvando assim a sociedade síria de um possível conflito armado." / L.S.