Título: A ministra que comprou briga com a propaganda
Autor: Sampaio, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2011, Metrópole, p. C11

Entrevista com Iriny Lopes, titular da Secretaria de Políticas para as Mulheres

Além de reclamar de "sexismo"em comercial, ela também se envolveu em críticas a novela e programa de humor

Três peças publicitárias de 15 segundos deram horas de mídia à agência Giovanni+DRAFTFCB, graças à polêmica levantada pela ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Em uma das peças, a top Gisele Bündchen avisa o marido que bateu o carro: primeiro vestida (lê-se: "errado"), depois de lingerie ("certo"). Iriny acha que a ideia "caracteriza sexismo retrógrado e ultrapassado" e solicitou ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) que avalie as peças. O caso deve ser julgado na quinta-feira.

Casada e mãe de três filhas, Iriny também prestou solidariedade a metroviários que reagiram a um quadro considerado "sexista" do programa Zorra Total, da Globo, no qual mulheres são assediadas no vagão. Ainda sugeriu que a personagem da atriz Dira Paes, que apanha do marido na novela Fina Estampa, recorra na ficção ao disque-denúncia contra violência doméstica (180). Autor da novela, Aguinaldo Silva postou no Twitter: "Ira-ny (sic), a insaciável, agora quer ser corroteirista."

Iriny nasceu em Minas e migrou para o Espírito Santo, onde ajudou a fundar o PT e se envolveu em movimentos sociais, elegeu-se deputada três vezes e presidiu duas vezes a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Anteontem, ela falou sobre as brigas que comprou.

Por que tanta polêmica sobre a propaganda de Gisele? Eles poderiam simplesmente mostrar o quão bonita é a lingerie, colocar (a modelo) andando pra lá e pra cá, ou coisa do tipo. Mas não dizer que é errado conversar com o marido de roupa: isso induz (a pensar) que a mulher é só um pedaço de corpo.

Polemizando, a senhora não ajuda a divulgar mais a publicidade, em um efeito contrário? A polemização faz parte do processo democrático. Até o Conar tomar sua decisão, as pessoas vão ficar querendo ver, sim.

A censura não parece um contrassenso quando se defende a emancipação da mulher? Não estamos praticando censura. Eu me baseei nas regras do Conar, um órgão autorregulador, para me manifestar. Nosso entendimento é que artigos foram feridos.

Sua atitude pode levar a crer que a mulher precisa de alguém para escolher o que é melhor... Isso não é uma tutela. Acontece que a publicidade forma opinião, é um instrumento poderoso. Eu posso, tenho obrigação, ao receber na minha ouvidoria reclamações, de tomar providências. Não é minha intenção fazer campanha contra. Não compete ao governo, existe um órgão para se manifestar.

Quando é uma ministra falando, o pedido tem peso maior. Aí há um exagero. As próprias agências estabelecem um limite ao que deve ser veiculado, por meio do Conar. Na propaganda, quando eles colocam o que é certo e errado, achamos que caracteriza um sexismo superado, atrasado.

É comum ver revistas femininas anunciando "dicas para levar seu companheiro ao orgasmo" e "como ser mais atraente para ele". O que a senhora acha? É o caso de sugerir algo diferente? Você está comparando alhos com bugalhos. Eles não estão vendendo um produto, estão trabalhando no sentindo de que a relação entre o homem e a mulher fique mais afetuosa, mais gostosa, tranquila, feliz.

Também há propaganda em que homem é apresentado como objeto e tem corpo exposto... São livres para reclamar. Estamos falando de quem tem hegemonia na sociedade e sempre foi tratada com desigualdade.

O autor de Fina Estampa, Aguinaldo Silva, não gostou da sugestão da senhora sobre a novela. Ele está no direito dele. Todo mundo é livre para ter opinião. Agora, no caso da novela, tomamos essa iniciativa porque consideramos positiva a maneira como vem sendo tratada a questão social, não o contrário.