Título: Fantasma de Kirchner pairou sobre campanha
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2011, Internacional, p. A12/16

"Ele vive." É com essas palavras, pronunciadas de forma enfática, que a presidente Cristina Kirchner narra seu último spot de sua campanha eleitoral. As imagens mostram o ex-presidente Néstor Kirchner beijando bebês, rodeado por adolescentes e aposentados, abraçado a trabalhadores e a própria Cristina.

"Os mortos não deveriam competir nas eleições", afirmou Jorge Lanata, jornalista e historiador. Segundo Lanata, a presidente fez um uso intenso de sua imagem de viúva na campanha eleitoral. "Cristina, quando Néstor estava vivo, o chamava pelo sobrenome, mas, depois de morto, ela não diz seu nome. Simplesmente diz 'Ele'."

Desde a morte de Kirchner, o governo estimulou o rebatizado de ruas, praças e pontes com o nome do ex-presidente. Além disso, subsidia a preparação de um filme sobre a vida de Kirchner.

Desde novembro, em mais de 400 discursos públicos, Cristina alternou constantemente uma referência sobre as conquistas de seu governo e outra sobre seu marido morto. Durante a campanha eleitoral os cartazes com a imagem de Kirchner - como se ele fosse o candidato presidencial - espalharam-se por todo o país.

"Existe uma consagração mítica de Kirchner, criada em menos de um ano, desde sua morte", disse Lanata. "Construíram até um mausoléu em Rio Gallegos que supera em tamanho tumbas como as de John F. Kennedy e Winston Churchill. Aquilo (o mausoléu) é como a pirâmide de Quéops!" A socióloga Beatriz Sarlo disse que as mortes dos líderes, dentro do peronismo, tiveram impactos negativos. "No entanto, a morte de Kirchner ocorre no momento exato, como se fosse um ator que sai de cena no momento certo." Segundo ela, a presidente inventou um nível simbólico muito arriscado, que é o de estar entre o pranto e o de ser a dama de ferro.