Título: Falta de acordo agrava crise nos EUA
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2011, Economia, p. B3

Supercomitê bipartidário não consegue definir corte de US$ 1,2 trilhão na dívida americana até 2022 e expõe ambiente de desgaste político

O fracasso do Congresso dos Estados Unidos em chegar a um acordo sobre a redução de US$ 1,2 trilhão na dívida pública em dez anos provocou ontem uma onda negativa no mercado financeiro e bate-boca entre as forças políticas antagonistas do país. Com o colapso das negociações, haverá um corte automático de US$ 1,2 trilhão nas despesas federais de defesa, de educação e de infraestrutura do governo a partir de 2013.

No início da noite, o presidente americano, Barack Obama, veio a público para pressionar o Congresso a retomar as negociações depois do feriado de quinta-feira, Dia de Ação de Graças. Obama, porém, ameaçou vetar qualquer tentativa dos republicanos de alterar as áreas sujeitas a cortes automáticos, de forma a poupar o Pentágono e atingir os programas assistenciais de saúde.

"Alguns no Congresso já estão tentando conduzir esses cortes automáticos de gastos. Minha mensagem é simples: não. Eu vetarei qualquer esforço para livrar aqueles cortes automáticos domésticos e em defesa", disse. "Precisamos manter a pressão para que saia um compromisso."

Os membros do comitê bipartidário anunciaram oficialmente o insucesso das negociações dois dias antes do prazo final. O anúncio partiu do deputado republicano Jeb Hensarling e da senadora democrata Patty Murray. Em princípio, o fracasso não tende a provocar danos contábeis na meta de reduzir US$ 2,2 trilhões da dívida americana, hoje em mais de US$ 15 trilhões.

O acordo de agosto definiu o corte de US$ 1 trilhão nas despesas correntes, já em curso. Também previu o gatilho, no caso de o Congresso não se acertar sobre o corte de US$ 1,2 trilhão.

Contagiados pelo ambiente eleitoral de 2012, os partidos deram outras mostras de desacerto. Os republicanos propuseram corte de US$ 776 bilhões nas despesas do governo e aumento de US$ 401 bilhões via reforma tributária, e não aumento de taxas. Os democratas rejeitaram a proposta, e exigiam o fim antecipado dos benefícios fiscais aos contribuintes mais ricos, a ser extinto em dezembro de 2012.

Ontem, após o comunicado do supercomitê, a Standard & Poor"s disse que o rating de crédito dos EUA, AA+ com perspectiva negativa, não será afetado, pelo menos enquanto o Congresso continuar a seguir o que foi acertado em agosto. "Se os limites forem relaxados, a pressão de baixa sobre os ratings poderá crescer", acrescenta a S&P.

Já a Fitch Ratings espera concluir sua revisão do rating de crédito dos EUA até o fim deste mês. A agência também comentou que o fracasso do supercomitê em obter um acordo provavelmente resultaria numa revisão da perspectiva para negativa, o que indicaria uma probabilidade maior de 50% de rebaixamento em dois anos. "Menos provável seria um rebaixamento de um grau", diz a nota da Fitch. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS