Título: Após escolher Aldo, Dilma ordena fim de convênios com ONGs e faxina na pasta
Autor: Rosa, Vera ; Monteiro, tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2011, Nacional, p. A4

A presidente Dilma Rousseff escolheu ontem o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) para assumir o Ministério do Esporte no lugar de Orlando Silva e deu a ele a missão de encerrar os convênios firmados com organizações não governamentais (ONGs), foco de corrupção que provocou a queda do antecessor. Em reunião no Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff também pediu a Aldo Rebelo que tire o Esporte "das páginas policiais" e faça uma "faxina" na pasta.

Alvo de uma crise que durou 12 dias e expôs a rota do desvio de dinheiro público para ONGs de fachada, o Ministério do Esporte já suspendeu os repasses para essas entidades no programa Segundo Tempo, mas, por ordem de Dilma, estenderá a prática. "Se desejam que me expresse com mais clareza, não pretendo fazer convênios com ONGs, mas, sim, com prefeituras", afirmou o novo ministro.

Dilma telefonou para Aldo ontem, por volta de 10h30, e pediu que ele fosse ao Palácio da Alvorada, onde lhe fez o convite para assumir o Esporte. Na conversa, ao lado do presidente do PC do B, Renato Rabelo, ela disse precisar de um gerente com o perfil político do deputado para tocar o ministério que vai cuidar da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.

Por mais de uma hora, Dilma discorreu sobre os problemas da pasta, lamentou que a crise tenha atingido Orlando Silva e determinou a Aldo que faça as demissões necessárias para desmontar o esquema de irregularidades no Esporte. "Certamente haverá mudanças, mas elas não significam a condenação de ninguém", insistiu ele.

Pente-fino. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que o governo prepara um decreto para suspender, por 30 dias, os repasses de recursos federais para convênios com ONGs.

Trata-se de uma operação pente-fino nos contratos. "Não queremos demonizar as ONGs, mas, se não houver um trabalho efetivo de fiscalização, os convênios ficam sujeitos a problemas e é isso que queremos corrigir", argumentou Carvalho.

Aldo foi o único nome levado à presidente pela cúpula do PC do B para substituir Orlando Silva. O comando do partido alegou que o presidente da Embratur, Flávio Dino (PC do B), será candidato à Prefeitura de São Luís (MA), em 2012, e, por isso, não o indicou. Mesmo que o indicasse, porém, Dino sofreria veto do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), seu desafeto político no Maranhão.

Sem respaldo. Preferida por Dilma para a composição da equipe, na transição do governo, a deputada Luciana Santos (PC do B-PE), ex-prefeita de Olinda, não contou com o aval do partido. Luciana quase chegou ao ministério em janeiro, mas, à época, o PC do B cerrou fileiras em torno de Orlando, também apadrinhado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Palmeirense roxo, ex-ministro da Coordenação Política no primeiro mandato de Lula (de 2004 a 2005) e ex-presidente da Câmara, Aldo Rebelo teve sério embate com a presidente Dilma na votação do Código Florestal e foi abandonado pelo Planalto quando concorreu a uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), no mês passado. Mesmo assim, sem opções no PC do B, Dilma agiu de forma pragmática.

Ela não quis entregar o ministério a outro partido para não esticar ainda mais a corda com o PC do B, tradicional aliado do PT. No Planalto, a avaliação é de que, embora o PC do B seja um partido pequeno, com 14 deputados federais, um rompimento da aliança provocaria estragos na base eleitoral governista sobretudo no movimento social. Não foi só: os comunistas ameaçaram prolongar a crise, denunciando fraudes em ministérios comandados pelo PT.

Nike. Ex-presidente da CPI da Nike, Aldo é um conciliador, conhecido por apagar incêndios até com a bancada da bola. Em 2000, comprou briga com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.

Quatro anos depois, no entanto, reaproximou-se de Teixeira por intermédio do então presidente do Palmeiras, Mustafá Contursi. Hoje, os dois são próximos, apesar de Aldo negar que eles sejam amigos.

"Em nome do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da Fifa, parabenizo o novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e desejo boa sorte em sua nova missão. Que o ministro conte sempre com a nossa colaboração e saiba que as portas do Comitê estarão sempre abertas", escreveu o presidente da CBF.

Em mais de uma ocasião, Dilma demonstrou contrariedade com as boas relações entre Orlando e Teixeira. O ex-ministro, no entanto, era detestado pelo secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke.