Título: Aumento de casos entre gays não surpreende
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2011, Vida, p. A18

Falta de campanhas para esse público, em especial os mais jovens, e ideia de que a aids se tornou uma doença crônica são algumas das causas

O aumento no número de casos de jovens homossexuais com HIV/aids não surpreendeu entidades que trabalham com essa população. Para representantes de ONGs, o fato de a doença ser vista como um problema crônico e a falta de campanhas específicas para esse público são fatores que refletem diretamente no aumento de casos.

Para Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABLGT), há três fatores que explicam o maior crescimento entre os jovens gays: diminuição do financiamento governamental para campanhas de prevenção, o fato de a aids assustar menos os jovens hoje do que há dez anos e o preconceito. "O preconceito faz o jovem gay ter uma baixa autoestima e isso aumenta sua vulnerabilidade. Quem não se ama, não se cuida."

Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT, diz que, com a chegada do coquetel de remédios antiaids, a juventude de forma geral deu uma "relaxada" na prevenção. Homens que fazem sexo com homens, no entanto, têm um risco maior de se contaminar, por ser a relação anal mais perigosa. "Jovens em geral não têm a visão dos efeitos colaterais que os remédios antiaids podem causar e dos problemas que os portadores enfrentam."

Preconceito. A mesma opinião é compartilhada por Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum ONG/Aids do Estado de São Paulo - entidade que representa cerca de 120 ONGs que trabalham com portadores do HIV.

"Houve um relaxamento, sem dúvida. As pessoas tendem a achar que tratar a aids é apenas tomar a medicação e pronto. Mas viver com aids não é fácil. Os efeitos colaterais da medicação existem, como a lipodistrofia, e o preconceito ainda é bastante forte", avalia.

Para Kleber Mendes, de 27 anos, portador do HIV e coordenador da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens que vivem com HIV/aids, Regional Sul, os casos de HIV entre jovens estão crescendo porque muitos não viram o começo da epidemia e não têm a noção da gravidade da doença. "É a velha história do prazer momentâneo. É achar que não vai acontecer com ele, assim como eu achei", diz (mais informações nesta página).

A rede representa cerca de 2 mil jovens de todo o Brasil e está tentando uma audiência com a presidente Dilma Rousseff para tratar do assunto. "É preciso ter uma política nacional voltada exclusivamente para essas pessoas", diz.

Já Pinheiro ressalta que apesar de as drogas para o tratamento da aids estarem disponíveis na rede pública, o acesso a elas ainda é demorado. Após o diagnóstico, diz, os portadores do vírus demoram cerca de cinco meses para serem encaminhados ao serviço especializado.