Título: Lagarde pede, mas não leva dinheiro para FMI
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2011, Economia, p. B8

Diretora-gerente do Fundo foi recebida por Mantega que disse estar disposto a ajudar desde que emergentes tenham mais voz na instituição

O governo brasileiro reforçou a disposição de emprestar dinheiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI), mas a ajuda só sai se forem atendidos os pedidos do Brasil e dos outros integrantes do Brics, que inclui China, Índia, Rússia e África do Sul.

Sem poder atender as exigências dos grandes emergentes, a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, deixou o prédio do Ministério da Fazenda no meio da tarde literalmente com as mãos abanando.

A principal demanda do Brasil e dos demais Brics é que a injeção de recursos no FMI aumente o poder dos emergentes na instituição. Essa é a bandeira dos cinco países que sonham com uma parcela maior dos votos para que o grupo tenha o poder de veto nas decisões do Fundo. Em entrevista ao lado de Lagarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu que os Estados Unidos e a Europa apoiem a proposta.

"Não acredito que nenhum país possa ser imune, mas alguns estão mais protegidos contra a crise, o que é claramente o caso do Brasil", afirmou Lagarde. "Se a crise se desdobrar mais ou apresentar novos desenvolvimentos, o Fundo vai precisar ajudar um número maior de países, além da Europa." Alinhado com a estratégia do grupo, Mantega disse ainda que não há valores definidos para uma eventual ajuda. A cifra será debatida com os parceiros do grupo num encontro antes da próxima reunião do G-20, programada para fevereiro do ano que vem.

Outro pedido do governo explicitado por Mantega é que uma ajuda ao Fundo seja necessariamente acompanhada por um aporte dos sócios europeus. Alemanha e França já demonstraram resistência em financiar uma ampla solução para a dívida de países como a Grécia.

Lentidão. Mantega aproveitou o encontro para demonstrar a preocupação do governo brasileiro com a lentidão das autoridades europeias para encontrar uma solução para a crise. Durante a entrevista, o ministro brasileiro disse repetidas vezes que o Brasil espera a solução "mais rápida possível" para a crise e que, se os responsáveis demorarem muito, podem surgir problemas ainda piores, como uma crise de crédito.

Após reunião e almoço, Mantega ouviu de Lagarde uma série de elogios à economia e às decisões do governo brasileiro. Na entrevista após o encontro, nem Mantega nem Lagarde citaram que a visita tinha como objetivo pedir dinheiro ao Brasil.

Mas, nos últimos segundos do encontro, Mantega deixou claro que a colega francesa veio com um pires na mão. "É com grande satisfação que desta vez o FMI não veio trazer dinheiro, mas veio pedir dinheiro. Prefiro ser credor que devedor", disse o ministro ao lado de Lagarde que, ao se preparar para deixar a mesa, já estava sem os fones de ouvido da tradução simultânea. / FERNANDO NAKAGAWA, EDUARDO RODRIGUES e EDUARDO CUCOLO