Título: Guarda compartilhada dobra em uma década
Autor: Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2011, Vida, p. A28

Modelo em que ex-casais dividem criação dos filhos ganha impulso; em Salvador, foi adotado em 46% dos casos de divórcio

Estabelecida por lei há três anos, na mudança do Código Civil, a guarda compartilhada de filhos com pais separados começa a tomar fôlego no Brasil. No ano passado, a responsabilidade sobre 8.702 crianças foi dividida entre pai e mãe. Corresponde a 5,5% dos divórcios registrados em 2010 - o dobro do início da década.

De acordo com a advogada especializada em Direito da Família Melissa Areal Pires, esse índice só não é maior porque muitos juízes têm o entendimento de que a guarda compartilhada pressupõe que os pais tenham bom relacionamento entre si. "Os homens estão mais conscientes do seu papel na criação dos filhos, mas ainda há tendência forte do Judiciário de conceder a guarda compartilhada quando os pais concordam a respeito da educação e criação dos filhos", diz.

Salvador destoou da estatística nacional - 46,54% dos filhos menores de casais que se divorciaram em 2010 (1.196 pessoas) ficaram sob responsabilidade de pai e mãe. São Paulo ficou em 16.º lugar no ranking das capitais (6,06%). As mulheres ainda são as principais responsáveis pelos filhos - em 87,3% dos divórcios a guarda coube às mães. Apenas em 5,6% dos casos a guarda ficou com o pai.

Acordo. Quando se separaram, a aposentada baiana Ângela Lomanto e o seu ex-marido, Raul Rêgo, recorreram à guarda compartilhada do filho Raul, hoje com 23 anos, muito antes de a lei ser estabelecida. Foi uma decisão do bom senso. Raul Rêgo Filho tem dificuldades intelectuais por ser portador de uma síndrome não definida pela medicina.

Ângela já tinha duas meninas e o ex-marido, dois meninos, de relacionamentos anteriores. Raul Filho nasceu de uma gravidez programada. "Alguns anos depois meu ex-marido se envolveu com outra pessoa e pediu a separação. Acho que ele não conseguiu segurar o peso de uma rotina complicada imposta por uma criança especial", supõe.

No início, Raulzinho ficou morando com Ângela. Mas, depois isso mudou. Eles conversaram e concluíram que seria bom para o menino passar mais tempo com o pai. Raulzinho cresceu sem prazos definidos para ficar na casa do pai ou da mãe, com uma rotina partilhada. / ELIANA LIMA, ESPECIAL PARA O ESTADO