Título: Corte nos juros não e a única arma a disposição do BC
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2011, Economia, p. B4

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve o ritmo que indicou que manteria ao promover mais um corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros, apesar da nítida tendência de agravamento da"situação econômica na Europa. Ao fechar 2011 com a taxa Selic em n% ao ano, o Copom deixou claro que seguirá ajustando gradualmente o juro básico. As projeções do mercado, não custa lembrar, são de que a Selic terminará o 1.0 semestre de 2012 entre 9% e 10% ao ano.

Não faria mesmo muito sentido já acelerar o passo, como chegou a sugerir o movimento dos juros futuros há alguns dias. É certa a tendência de esfriamento da economia, mas existem dúvidas sobre o ritmo do recuo no nível de atividades e mais ainda sobre as pressões que sobreviverão sobre os índices de inflação. Em situações como essa, prudência geralmente é a melhor escolha.

A equação que o Banco Central precisa resolver exige sintonia fina no uso dos instrumentos à disposição. Cortar os juros básicos é uma óbvia alternativa para estimular a tomada de crédito - para consumo ou investimento -, mas sua eficácia não é imediata nem tão ampla quando a liquidez anda apertada. E, na atual conjuntura, é disso que se trata.

Reduções nos juros quando existe um problema de liquidez, com entupimento nos canais de captação de recursos para empréstimo e falta confiança dos bancos para emprestar, tendem a apresentar eficácia mais limitada. Quando há redução da oferta de crédito por contração nas linhas de repasse ou por temor de inadimplência futura, caso atual, seria necessário derrubara Selic muito agressivamente para compensar as restrições à liquidez. Mas e os efeitos colaterais na dinâmica dos preços, inclusive os provenientes de· uma consequente desvalorização cambial?

O Banco Centrill, no entanto, dispõe de espaço para aumentar a liquidez sem esticar ·a corda da Selic além da conta. Aí estão as medidas macroprudenciais, adotadas no fim do ano passado, para serem gradualmente revertidas, de acordo com a necessidade.

Essa reversão já começou a ser feita, com um primeiro alívio nas restrições aos prazos de financiamento, no começo de novembro. Nesse aspecto, o volume dos recolhimentos compulsórios dos bancos, atualmente nas alturas dos R$ 400 bilhões, é uma munição poderosa que ainda está intacta no arsenal.