Título: Juro volta a cair 0,5 ponto, para 11%
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2011, Economia, p. B4

A terceira queda consecutiva da taxa Selic, como previam os economistas, praticamente anulou todo o início do ano

O Banco Central (BC) voltou a cortar o juro básico da economia e praticamente anulou todo o aumento da taxa no início do ano. Na terceira queda seguida, a Selic foi reduzida ontem em 0,5 ponto, para 11% ao ano, exatamente como esperavam os economistas. -.

Com o objetivo de reduzir o impacto da crise global sobre o Brasil e acelerar a economia, os juros já caíram 1,5 ponto desde agosto. No início do ano, antes das altas do primeiro semestre, o juro estava em 10,75%.

Unânime, a decisão do BC tenta "mitigar tempestivamente" os efeitos de um ambiente global "mais restritivo", cita o comunicado divulgado após a última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom). O texto diz que "um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".

Diante de novos sinais de que a economia brasileira avança mais lentamente, o juro seguiu em trajetória de queda para diminuir o custo dos financiamentos e, assim, incentivar a demanda interna. Para atingir esse objetivo, os cortes devem continuar nos próximos meses.

Mais do que isso: economistas dizem que o quadro externo pode fazer até com que BC aumente a dose do remédio.

Cortes maiores. Nas últimas semanas, o impasse para a solução da crise europeia deteriorou ainda mais as condições de mercado, com mais desconfiança e aversão ao risco entre empresas, consumidores e investidores.

Ao mesmo tempo, há mais sinais de desaceleração nos países emergentes. Até a pujante China já está rodando em velocidade menor. Para tentar combater essa influência negativa sobre o Brasil, bancos apostam que os juros vão cair ainda mais em 2012.

O Bradesco, por exemplo, reduziu recentemente a previsão para a Selic no próximo ano de 10% para 9,5%. "Não descartamos que a ata deixe as portas abertas para aumentar o ritmo de queda nas reuniões subseqüentes", avalia o departamento de pesquisas e estudos econômicos do banco. O Itaú acredita em juro de 9% em 2012 e também avalia que cortes mais agressivos são uma possibilidade.

A redução dos juros ocorre apesar de a inflação seguir fora da meta. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,97%, acima do teto de 6,5%. Apesar disso, o Banco Central entende que os preços têm subido menos nas últimas semanas porque a economia barsileira gira mais devagar.

Com menor dinamismo no Brasil, o BC crê que o ano vai terminar com inflação dentro da meta e os preços desacelerarão ainda mais em 2012. A análise ganhou força recentemente com a deterioração do quadro externo.

A leitura, porém, ainda encontra resistência no mercado financeiro. Pesquisa do próprio BC mostra que analistas preveem IPCA de 6, 49% neste ano, perigosamente próximo do teto da meta. Para 2012, apostam que a inflação deve desacelerar para 5,56%. O BC acredita que será possível fazer com que a inflação termine 2012 perto de 4,5%.