Título: Crise afeta mais as exportações brasileiras
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2011, Economia, p. B7

De acordo com o levantamento da OCDE, comércio mundial já sente os efeitos da crise; para 2012, OMC prevê queda nas exportações

As exportações brasileiras já são as mais afetadas pela crise nos países ricos entre as maiores economias do mundo. Dados divulgados ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que o comércio mundial foi atingido de forma dura pela nova crise econômica. As vendas brasileiras, porém, são as que mais sofreram queda por causa da estagnação nos países ricos.

Para a Organização Mundial do Comércio (OMC), a previsão de crescimento das exportações em 2011 pode ser revisada diante do novo cenário e, em 2012, os números correm o risco de ser negativos. Em 2009, foi justamente a recessão nos países ricos que levou o comércio mundial a ter seu pior ano em sete décadas, com retração de 12%. Na ocasião, analistas e a OMC apontaram que foi a interrupção de compras nos países ricos que permitiu a contaminação generalizada da crise em mercados como os do Brasil e China.

Agora, o cenário dá sinais de se repetir. " Há uma desaceleração em todas as áreas e não vejo como não iria desacelerar o comércio também", disse Pascal Lamy, diretor da OMC. "Para 2012, a tendência é de queda", afirmou.

Segundo a OCDE, as importações dos países do G-7 e dos Brics sofreram uma contração de 1% no terceiro trimestre de 2011, comparado com uma expansão de 4,2% no trimestre anterior. Os dois grupos de países deixaram de importar US$ 25 bilhões em três meses por causa da queda na renda, maior desemprego e maior incertezas. Só o Brasil perdeu quase US$ 5 bilhões por conta dessa queda de consumo nos países ricos.

Isso tudo em um trimestre em que a economia mundial sequer havia sofrido uma recessão. A perspectiva da OCDE é de que a retração do PIB ocorra justamente neste fim final de ano, o que teria um impacto ainda maior para o comércio. No terceiro trimestre, ainda assim, as exportações também sofreram um freio importante. Os dois blocos registraram juntos um aumento de apenas 1% ante uma alta de 4,2% no segundo trimestre do ano.

Na Europa, o impacto tem sido forte. As exportações e importações da Alemanha, França, Reino Unido e Itália sofreram quedas importantes, num sinal de que pacotes de austeridade começam a afetar o consumo. Nos Estados Unidos, as importações sofreram uma contração de 2,7%. Já as exportações tiveram um aumento de 2,5%, abaixo dos 3,6% registrados três meses antes. No Canadá, as importações também sofreram uma estagnação.

Brasil. Tudo isso se reverteu em perdas importantes para o Brasil no lado das exportações. As vendas do País ao exterior passaram de US$ 83 bilhões no segundo trimestre para US$ 78 bilhões no terceiro trimestre, inferior mesmo às taxas no início de 2011. A redução foi de 6,3%, depois de uma alta de 5,3% três meses antes. A queda nas exportações nacionais é três vezes superior a taxa de redução nos países europeus. O comércio brasileiro tem se diversificado cada vez mais. Mas pelo menos um terço dele tem como destino a Europa e Estados Unidos, regiões estagnadas e onde o consumo não aumenta.

As importações brasileiras ficaram praticamente estagnadas, passando de US$ 60,3 bilhões para US$ 60,8 bilhões. O resultado foi o menor superávit do ano, com US$ 17 bilhões, contra US$ 23 bilhões um trimestre antes. A crise também já atinge o desempenho da China, o maior exportador do mundo. As vendas do país registraram alta de apenas 3,2%, ante uma taxa de expansão de 10,1% no trimestre anterior. Para diplomatas europeus, essa seria a prova de que a China tem todo o interesse em ver resgatado o euro e garantir a estabilidade da UE, o maior parceiro comercial de Pequim.