Título: Manifestantes pedem lei islâmica na Constituição
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2011, Internacional, p. A20

A pressão de grupos religiosos fundamentalistas começa a aumentar na Líbia. Ontem, em meio a festejos pela derrota das tropas de Muamar Kadafi, que se espalharam pelas maiores cidades, cerca de 200 homens ocuparam a Praça da Libertação, no centro de Benghazi, para pedir que a Constituição do país tenha como base a lei islâmica, a sharia.

Há uma semana, o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafa Abdel Jalil, defendeu essa ideia durante um discurso na mesma praça, o epicentro da revolução que depôs Kadafi. No entanto, diante da pressão internacional, Jalil voltou atrás no dia seguinte em parte de suas declarações, passando a defender uma Constituição moderada e o respeito às convenções internacionais de direitos humanos.

Ontem, os fundamentalistas pediam, entre outras medidas, a liberação da poligamia na Líbia, que durante o regime de Kadafi era limitada. "O Alcorão é a base e a Constituição deve ter seu fundamento na sharia", diziam os manifestantes.

"Somos um país muçulmano e nossa Constituição deve refletir nossas crenças religiosas", disse Ahmed al-Moghrabi, clérigo que dirige uma mesquita da cidade. "Com Kadafi, a sharia não era aplicada oficialmente, mas, em nossas casas, nós a seguimos. As mulheres já estão habituadas", disse Sabri Ali.

Apesar da grande amplitude da lei islâmica, a discussão entre a aplicação da sharia tem se concentrado apenas no debate sobre a igualdade de homens e mulheres, que é defendida pelos líderes do Ocidente que apoiaram a revolução, mas representa uma questão sensível na Líbia.

Pressão. Com a retirada da Otan do território líbio - confirmada ontem pelo secretário-geral da aliança atlântica, Anders Fogh Rasmussen, após ordem da ONU -, a comunidade internacional pretende criar um mecanismo para auxiliar a Líbia militarmente e exercer influência sobre o futuro governo. A entidade Amigos da Líbia, organizada pelo Catar, deverá substituir a Otan no apoio bélico ao governo líbio, o que lhe garantiria influência sobre o CNT. / COM AFP