Título: A indústria e a falta de investimentos públicos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2011, Economia, p. B2

A indústria de transformação será, neste ano, a vilã do crescimento econômico - situação bastante anormal quando se considera que o crescimento do consumo doméstico devia ter ampliado a produção da indústria nacional.

É preciso tentar explicar as razões dessa anomalia, totalmente contrária ao que se poderia esperar.

Uma primeira explicação pode ser encontrada na falta de investimentos, pois no ano anterior registrou-se uma decisiva vontade das empresas de se aproveitarem de uma taxa cambial muito valorizada para aumentar a importação de bens de capital capazes de melhorar a produtividade nas indústrias e de favorecer a inovação. No entanto, neste ano, essa busca se viu frustrada, pois, com a economia mundial em crise, as indústrias estrangeiras passaram a praticar preços cada vez mais atraentes, que se somaram às vantagens decorrentes da valorização do real, favorecendo as importações.

Nesse contexto, as indústrias brasileiras chegaram à conclusão de que, para oferecer bens a um preço atraente, a única solução era importar o maior número possível de componentes, aceitando, assim, funcionar como montadoras de bens importados. Com isso, deixou de investir em produção própria.

Essa situação deverá continuar enquanto a taxa cambial estiver excessivamente valorizada, notando-se que as medidas tomadas recentemente para incentivar investimentos favorecem a valorização do real, e não o contrário.

No entanto, há um fator que parece esquecido, mas que talvez tenha contribuído para baixar ainda mais a produção industrial neste ano: a forte redução dos investimentos públicos em infraestrutura.

O governo de Dilma Rousseff deu prioridade à contenção dos gastos públicos, que no período de Lula haviam aumentado numa proporção preocupante, levando a um aumento do endividamento. A preocupação se justificava plenamente, porém, diante das opções de cortar as despesas de custeio ou as de investimentos, a escolha da presidente caiu sobre as de investimento. Não queria, talvez, aparecer, logo no primeiro ano, com uma política de reconsideração dos gastos do funcionalismo ou de redução da máquina administrativa, que rendem dividendos políticos.

Ora, embora marginais, os investimentos públicos têm peso importante na demanda da indústria, além de aumentarem também a demanda doméstica, e não criam muita dependência da importação, como no caso da indústria de transformação.