Título: Alemanha e França dão ultimato a outros países
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2011, Economia, p. B3

Berlim e Paris querem novo tratado mesmo que não haja adesão das 27 nações que compõem a União Europeia; plano será analisado amanhã

Apesar das promessas da Alemanha e França de que todos os países do bloco serão consultados sobre o projeto de refundar a Europa, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel deixaram claro ontem que não vão esperar e deram um ultimato: ou os demais governos aceitam a proposta até a cúpula de sexta-feira ou o projeto será implementado com um grupo menor de países.

Amanhã, o plano será submetido ao presidente da União Europeia (UE), Herman Van Rompuy, que debaterá a ideia com os demais governos e tentará costurar uma unanimidade. A meta é de que o novo tratado seja ratificado até março de 2012, antes das eleições na França.

Para isso, o Tratado de Lisboa terá de ser reaberto. Mas, se a resistência for ampla, sobretudo do Reino Unido, a opção é seguir com aqueles que estejam de acordo. "Preferimos um acordo com os 27 (países da UE). Mas estamos prontos para aprová-lo com os 17 países que usam o euro", disse Sarkozy.

Mas ontem alguns governos alertaram que reabrir o Tratado de Lisboa pode ser perigoso, já que vários deles pediriam reformas em outras áreas também. No caso da Irlanda, por exemplo, o governo será obrigado a passar o novo texto por um referendo popular.

David Cameron, primeiro-ministro inglês, já deixou claro que não aceitará ficar de fora de um novo tratado, mas também não aceitará a transferência de poder de Londres para Bruxelas.

Já Sarkozy insistiu na reforma que o conselho de presidente dos membros da UE será o governo econômico da Europa e terá reuniões todos os meses, pelo menos até que a crise seja superada. Nesse caso, o poder da Comissão Europeia é minado, o que não agrada a vários países.

Merkel, porém, justifica a pressa de Berlim e Paris. Segundo ela, os líderes europeus fracassaram nos últimos três anos para trazer uma proposta que significasse uma solução. "Precisamos de mudanças estruturais que vão além de acordos", afirmou. "Precisamos garantir que os desequilíbrios que levaram à situação que estamos hoje não se repitam", completou Sarkozy.

Ontem, o gestual do encontrou pesou tanto quanto as palavras. Ambos os líderes vestiam negro, para dar o tom de seriedade do momento. O diretório franco-alemão também fez questão de mostrar que estava mais unido que nunca. Andaram de mãos dadas, trocavam sorrisos e olhares de cumplicidade, enquanto suas assessorias alertavam que o acordo entre os dois "salvava o euro". Essa possibilidade animou os mercados, ao menos até o momento em que a Standard & Poor"s informou que pode rebaixar a perspectiva de rating de 15 países europeus.