Título: Mercado aposta, pela 1ª vez em 2 anos, em juro abaixo de 10%
Autor: Nacagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2011, Economia, p. B5

Economia em desaceleração e a falta de solução para a crise europeia já levavam analistas a acreditar que inflação deve sofrer queda nos próximos meses, fechando 2012 em 5,49%, diz Focus

Em meio a sinais de que a economia está cada vez mais fraca, a nova forma de cálculo da inflação ajudou a reforçar a aposta de que os juros devem continuar em queda. Pesquisa feita pelo Banco Central junto ao mercado mostra que a previsão para o IPCA em 2012 teve a maior queda semanal desde fevereiro. Com a expectativa de preços mais bem comportados e atividade lenta, a previsão para a Selic no fim do próximo ano caiu de 10% para 9,75%. É a primeira vez desde setembro de 2009 que prevalece a expectativa de juro abaixo de 10% em 2012.

A economia mais fraca e a falta de solução para a crise europeia já levavam o mercado a acreditar que a inflação vai desacelerar nos próximos meses. Essa leitura ganhou um reforço na semana passada, quando o IBGE anunciou a nova metodologia de cálculo para a inflação medida pelo IPCA. Com a decisão, a conta da inflação vai dar menos importância a preços que sobem com mais força, como cigarros e educação.

Após essa novidade, a previsão para a inflação em 2012 caiu de 5,56% para 5,49%, a maior queda semanal desde a pesquisa Focus de 4 de fevereiro. Mas como essa nova metodologia só entra em vigor em 2012, a inflação deste ano não foi afetada. Ao contrário: a expectativa para o IPCA de 2011 subiu pela segunda semana seguida, de 6,49% para 6,50%, retornando ao limite máximo permitido pelo regime de metas .

"Antes, acreditávamos que a inflação fecharia 2012 entre 5,5% e 6%. Agora, ficará entre 5% e 5,5%. Isso abre algum espaço adicional para o BC cortar os juros. Mas o IBGE não mudou a metodologia pensando nisso", afirma o economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano, ao comentar que esse tipo de ajuste precisa ser feito periodicamente para que a inflação reflita melhor os gastos efetivos da população. Além disso, pondera que o fato de o BC manter o discurso de que os cortes de juro serão "moderados" também abre espaço para mais cortes. "Quanto mais gradual é a ação do BC, mais prolongada tende a ser".

Novos cortes. Para o mercado, esse cenário de inflação um pouco mais moderada reforça o espaço para que o BC continue com o corte dos juros.

Na pesquisa divulgada ontem, os analistas indicam que o Copom deve promover mais duas reduções de 0,50 ponto porcentual, em janeiro e março, e encerrar o ciclo com um corte mais moderado, de 0,25 ponto, em abril, o que colocaria a Selic em 9,75% ao ano.

Diante da aposta de novos cortes e após o pacote do governo para aumentar o consumo, anunciado na semana passada, a previsão de crescimento da economia - medida pelo Produto Interno Bruto - em 2012 subiu de 3,46% para 3,48%, o maior aumento semanal desde 27 de maio.