Título: Iata critica modelo brasileiro de concessão de aeroporto
Autor: Simão, Edna
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2011, Economia, p. B3

Tony Tyler, presidente da associação, adverte que privatizações não vão atender as necessidades do mercado

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) informa que a desaceleração da economia brasileira já repercute na indústria aérea, com queda na demanda do mercado doméstico de passagens e carga. Com isso, pode haver prejuízos financeiros importantes para as empresas áreas nacionais já em 2012, depois de anos de expansão.

Mas a entidade diz que, mesmo com essa desaceleração, o Brasil corre o risco de sofrer se não ampliar a capacidade de seus aeroportos. Para a entidade, a falta de investimentos nos aeroportos de São Paulo ameaça o próprio crescimento da economia brasileira.

Segundo a Iata, o modelo de privatização de aeroportos no Brasil não atenderá as necessidades do mercado. A advertência é do presidente da entidade, Tony Tyler. Ele alerta ainda que, se as obras para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 não forem aceleradas, o País pode viver "uma grande bagunça".

A Iata é o lobby das maiores empresas aéreas do mundo e não hesita em pressionar os governos quando seus interesses estão ameaçados. "Na Ásia e no Oriente Médio, governos estão fazendo obras (em aeroportos) como parte de sua estratégia econômica", apontou o executivo. "Nosso entendimento é de que isso não está ocorrendo em outras regiões", alertou.

Falando a mais de 200 jornalistas de todo o mundo, Tyler usou o exemplo de São Paulo para alertar para o impacto da falta de investimentos. "Os limites na capacidade de São Paulo ameaçam o crescimento." Na avaliação da entidade, o plano de privatização dos aeroportos também não será suficiente para que os problemas sejam superados.

"Para dar um exemplo de onde coisas poderiam dar errado, o Brasil está planejando privatizar alguns de seus aeroportos em um modelo que veria a agência reguladora do governo ter também o papel de acionista", explicou. "É como colocar uma raposa tomando conta de galinhas."

"Não se pode ser o regulador de um serviço e ao mesmo tempo ter ações no empreendimento", alertou o presidente da Iata. "A eficiência do serviço pode ser afetada."

Tyler disse que foi ao Brasil há poucas semanas, para tentar convencer o governo a mudar de posição. "Estamos trabalhando e tentando mostrar que o modelo não funcionará e para evitar erros", disse.

Desaceleração. Ontem, a Iata revelou seus novos números, indicando que uma recessão mundial em 2012 pode levar a indústria aérea a somar prejuízos de US$ 8,3 bilhões. Na melhor das hipóteses, os lucros de 2011, que chegarão a US$ 6,9 bilhões, serão cortados pela metade no próximo ano, em cerca de US$ 3,5 bilhões. Em 2010, haviam somado US$ 15,8 bilhões.

O Brasil e a América Latina não estão imunes. Para a Iata, a economia brasileira dá sinais de perder fôlego, o que afetaria o setor de transporte em toda a região. A previsão mais sombria é de perdas de US$ 400 milhões em 2012. Metade delas no Brasil.

Outro impacto deve ser o comércio, que já freia a expansão do setor de cargas na América Latina. Mesmo em 2011, as projeções iniciais de lucros para a região, de US$ 600 milhões, foram abandonadas. Agora, o melhor cenário aponta ganhos de US$ 200 milhões. A entidade deixa claro que mais uma vez é a queda do mercado doméstico brasileiro que contribui para a redução.

No cenário global, um eventual colapso da economia da Europa é que teria a maior repercussão para a indústria, provocando queda no número de passageiros, no volume de carga e o aumento nos custos. Para a entidade, não há dúvidas de que as empresas aéreas sofrerão em 2012. "A questão é saber o tamanho das perdas", disse Tyler.

A projeção inicial é de prejuízos de US$ 1,6 bilhão entre 2011 e 2012 para as empresas aéreas da Europa. Mas, se a crise europeia for mais profunda, as perdas para o setor no continente chegariam a US$ 4,4 bilhões, ante US$ 1,8 bilhão de perdas nos Estados Unidos.