Título: Cúpula da UE começa marcada por divergências
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2011, Economia, p. B10

Líderes europeus alertam que projeto de refundar a Europa não sairá em 24 horas

Líderes europeus desembarcam hoje em Bruxelas para o que promete ser horas decisivas para o futuro do euro. Com sérias divergências e ameaçados por rebaixamento por parte das agências de classificação de risco, os governos já alertam que o projeto de refundar a União Europeia em apenas 24 horas pode não ser completado.

Temendo repetição de fiascos anteriores em outras cúpulas, Berlim fez questão de esfriar as expectativas sobre o encontro que está sendo considerado como "a cúpula da última chance".

Oficialmente, a reunião começa amanhã. Mas um jantar de trabalho hoje entre os 27 líderes dará o pontapé inicial da fase dos debates. Negociações prometem entrar pela noite.

A véspera do encontro mais esperado do ano foi marcada por tensões, decepções e alertas. França e Alemanha publicaram ontem o projeto completo para refundar a UE acertado entre eles. Além da união fiscal, apresentam o esboço do que seria de fato um "governo econômico europeu".

Berlim e Paris querem - além das propostas já conhecidas de forçar países a adotar regras de equilíbrio orçamentário e punir governos que violarem a lei - estabelecer um imposto comum para evitar guerra entre os países do bloco e atrair investimentos.

Se o acordo foi comemorado pelo mercado nos últimos pregões, ontem o dia foi de tensão. Um alto funcionário da diplomacia francesa admitiu que um dos cenários mais prováveis é de um acordo apenas entre os 17 países que usam o euro seja alcançado. Um entendimento entre todos os 27 países do bloco ficaria para o futuro. Já a Alemanha acredita que até o Natal um acordo geral possa ser feito.

A bolsa alemã fechou com queda de 1,1%, o euro perdeu terreno e o risco país da Espanha e Itália voltou a subir. Nem o fato de a Alemanha ter conseguido emitir notas do Tesouro sem problemas para encontrar compradores deu alívio ao mercado.

O dia terminou de novo com ameaças. A Standard & Poor"s, que já indicou que poderá rebaixar 15 países da zona do euro e o fundo de resgate do bloco, anunciou a mesma posição para o bloco todo. A ameaça serviu para relembrar aos líderes da região de que só uma solução conjunta poderá justificar o nome extraoficial do encontro: "a cúpula para salvar a UE".

Em carta enviada para todos os países do bloco, a chanceler alemão, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, insistem na necessidade de fechar o acordo até amanhã e ratificá-lo antes de março. "Precisamos agir", escreveram.

O voluntarismo dos dois países, porém, recebeu golpes duros. O primeiro foi de Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, que também enviou carta aos 27 países do bloco propondo alternativas para garantir a disciplina fiscal. Para ele, não há necessidade de um novo tratado europeu, o que evitaria ter de passar por parlamentos.

A iniciativa foi duramente atacada pela Alemanha, acusando a proposta de ser um "típico truque de Bruxelas que não atenderia às expectativas do mercado". Para Berlim, só um novo tratado daria legitimidade para a UE conseguir a confiança dos mercados. O governo de Merkel, porém, admite que não existe consenso sobre o novo acordo e já há quem alerte que a negociação pode ser estendida pelo fim de semana.

Veto. Negociadores de diversos países, entre eles Holanda e Áustria, insistem que terminar a cúpula com um acordo apenas entre 17 países seria demonstrar ao mercado que a UE não foi capaz de chegar a um entendimento. "Não vamos salvar o euro se terminarmos com uma Europa dividida oficialmente", alertou um representante holandês.

A principal resistência vem do grupo de dez países que faz parte da União Europeia, mas não usa o euro. Liderados pelo Reino Unido, o grupo insiste em não aceitar ficar de fora de um governo econômico europeu. Mas, por não usar a moeda única, não aceita ter os orçamentos controlados por Bruxelas.