Título: As medidas fiscais têm pouco efeito para a indústria
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2011, Economia, p. B2

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a produção industrial de outubro mostram que as medidas tomadas para aumentar o consumo doméstico terão pouco efeito sobre ela, mas podem aumentar muito a importação.

O fato é que o resultado de outubro foi bastante ruim para a produção industrial, especialmente quando se considera que a proximidade das festas natalinas deveria ter ativado essa produção. Os dados livres de influências sazonais registram um recuo da produção de 0,6%. Para os dez primeiros meses do ano, a elevação foi de apenas 0,7%, o que permite prever um balanço final muito fraco para o ano de 2011. O mais grave é que se trata de um panorama que alcança a maioria dos setores industriais, pois, dos 27 que são analisados, apenas 7 apresentaram alguma elevação de atividade.

O maior aumento é detectado no setor de veículos automotores, que sempre apresenta uma taxa de importação não desprezível de componentes, assim como o de equipamentos elétricos e de comunicação - estes também com componentes importados. A indústria de celulose e papel, em que o Brasil tem realmente vantagem em relação a outros países, também exibiu melhoras.

Não há informações que permitam aferir se a indústria está com ímpeto de realizar investimentos e uma modernização que ajudaria a reduzir a importação, o que, aliás, no mesmo dia da divulgação dos dados do IBGE - e mesmo depois do pacote fiscal do governo -, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) descartou claramente: os incentivos fiscais para tanto são limitados a alguns setores, e limitados também no tempo. O que se pode prever, com elas, é apenas uma antecipação das compras, seguida de um novo recuo da demanda.

Não se pode incentivar a indústria a produzir quando ela pode importar a preço mais reduzido. Ao propor incentivos fiscais, o governo reconhece que a carga tributária é o maior obstáculo ao desenvolvimento do consumo, e especialmente da produção. Esta não está acompanhando o aumento da demanda aquecida por uma política social que favorece apenas um lado da economia, esquecendo a necessidade de oferecer à indústria uma perspectiva séria de poder atender ao aumento dessa demanda de maneira inovadora e com melhoria da produtividade.

Sem dúvida, a questão da excessiva valorização do real ante o dólar é um problema de difícil solução, que o governo não enfrentou ainda, mas não é o único.