Título: Produção industrial cai pela 3ª vez seguida
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2011, Economia, p. B8

Queda foi de 0,6% em outubro e confirma trajetória negativa da atividade industrial

A produção da indústria recuou pelo terceiro mês consecutivo em outubro. Apesar de o tombo não ter sido tão grande quanto na leitura anterior (-1,9%), a queda de 0,6% em relação a setembro confirma a trajetória descendente da atividade industrial no País, segundo o IBGE.

Os níveis de estoques elevados, a competição com importados e a redução na demanda doméstica e internacional ajudam a entender o comportamento menos dinâmico do setor industrial a partir do fim do primeiro trimestre deste ano. "A indústria está num momento difícil, abre o 4.º trimestre com resultado ainda pior do que prevíamos. Esperávamos ao menos estabilidade", disse Rogério Cesar de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O recuo teve perfil generalizado, mas a queda foi puxada pelos alimentos, cuja produção caiu 5,0% em outubro. Houve perda de espaço no exterior para as exportações de carne e açúcar. "Muito dessa perda pode estar atrelada ao complexo de carnes. Em função do embargo a produtos brasileiros e da crise na Europa, a indústria vem tendo dificuldade de exportar. A exportação de açúcar também teve queda importante em 2011", afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

A produção de alimentos e o setor de veículos têm um dos maiores pesos na produção industrial, com uma participação de cerca de 10% cada. Quanto aos veículos, após as montadoras terem realizado paralisações para ajustar os altos níveis de estoques, a produção foi parcialmente retomada em outubro, ajudando o resultado positivo de bens duráveis em outubro. A categoria foi a única a ter expansão na comparação com setembro (de 2,4%), mas a alta não foi suficiente para eliminar as perdas acumuladas (de -8,8% em setembro e -4,3% em agosto).

"Essa perda de bens duráveis tem influência da paralisação das montadoras. A recuperação do setor de veículos automotores em outubro tem muito mais a ver com uma base de comparação muito baixa, porque vinha de quedas. Algumas unidades voltaram a funcionar, mas outras continuaram fechadas", explicou Macedo.

Na comparação com outubro de 2010, o recuo de bens duráveis foi de 10,1%, muito acima do total da indústria, que teve queda de 2,2% no período. A redução na produção de automóveis (-18,7%) foi a grande responsável pelo tombo, mas o setor de eletrodomésticos também perdeu dinamismo, cresceu só 2,5%.

Pacote. Os eletrodomésticos da linha branca - que inclui geladeira, fogão e máquina de lavar - mostram um comportamento moderado em 2011. De janeiro a outubro, a alta foi de apenas 0,1%. Não por acaso, o governo escolheu esse segmento para as desonerações anunciadas anteontem, com redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Segundo Macedo, ainda é cedo para dizer se as desonerações serão suficientes para impulsionar a indústria, mas a medida deu resultado da última vez em que foi adotada. "As medidas implementadas no fim de 2008 e início de 2009 ajudaram a explicar muito o movimento de recuperação dos setores beneficiados (eletrodomésticos e automóveis). Esse tipo de medida tem sempre a ideia de aumentar o ritmo de atividade", afirmou.

Na avaliação de Rafael Bacciotti, analista da Tendências Consultoria Integrada, a redução do IPI deve ter efeito imediato nas vendas do varejo e no consumo, mas pouco impacto na indústria. "Não há muita margem para crescer. Na indústria, a gente não vê nada muito alentador", afirmou Bacciotti. "A gente até espera alguma melhora em novembro e dezembro, nossa previsão era de que a produção encerrasse o ano com alta de 1,0%, mas esse número já será revisto para baixo na semana que vem."