Título: Varejo já está de olho no aumento do mínimo
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2011, Economia, p. B3

Empresas preparam promoções em que o consumidor começa a pagar só em fevereiro

SÃO PAULO - De olho nos cerca de R$ 4,9 bilhões de dinheiro extra que deverão entrar mensalmente na economia a partir de fevereiro, redes de comércio varejista já montam estratégias de marketing para vender mais na virada do ano. É nesse mês que as aposentadorias e alguns salários começam a ser pagos com base no novo valor do salário mínimo, que passará de R$ 545 para R$ 622,73.

A estratégia dos lojistas é criar promoções com pagamentos parcelados no cartão em valores próximos ao do aumento do salário mínimo, de R$ 77, de forma a fisgar o consumidor de baixa renda. Também prevê ofertas do tipo compre agora mas só comece a pagar em fevereiro ou depois do Carnaval.

"O que vai aparecer de prestação de R$ 69,90 não está no gibi", diz Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.

O Grupo Pão de Açúcar, dono da maior rede varejista do País, não quer perder a disputa pelo consumidor que ganha salário mínimo.

"Todo ano a gente imagina algumas ações para capturar o décimo terceiro e também o aumento do salário mínimo", conta o vice-presidente executivo do grupo varejista, Hugo Bethlen. "Mas sempre procuramos balancear o incentivo à antecipação de compras com uma coisa que a gente preza muito, que é o consumo consciente. Não podemos, de maneira alguma, induzir o consumidor a gastar mais do que tem."

Os lojistas têm motivos para serem cautelosos, observa o economista da Associação Comercial. "A inadimplência está subindo em relação a 2010, embora ainda esteja abaixo de 2009, no auge da crise financeira global", argumenta Alfieri.

Liquidações. De maneira geral, o impacto do reajuste do salário mínimo é mais sentido na área de supermercados e no varejo popular de produtos como roupas e calçados, os chamados bens de salário. Mas o aumento do salário combinado com a facilitação do crédito poderá empurrar também a venda de bens duráveis.

"Os lojistas têm dito que a combinação de aumento do salário mínimo com flexibilização da política monetária poderá fazer com que as liquidações pós-Natal na área de bens duráveis sejam mais prolongadas", conta Alfieri. Nessas promoções, a indústria, que tirou um pouco o pé do acelerador da produção, também contribuiria.

As Lojas Cem já estão preparadas para um início de ano aquecido, além de apostar também num final de ano bem melhor que o previsto pela maioria do mercado. "Estamos prevendo um faturamento 20% maior que o do fim do ano passado, enquanto o mercado fala em 5% ou 10%, no máximo", diz José Domingos Alves, supervisor geral da rede.

Nas avaliação do executivo, 2012 começará aquecido porque, além do aumento do salário mínimo, a indústria reduziu a produção e deverá voltar a carga no início do próximo ano, o que sinaliza que não haveria demissões. "Isso já dá uma aquecida nas vendas e confiança maior ao consumidor."