Título: Senado italiano aprova corte de gastos
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2011, Economia, p. B8

Plano de austeridade deverá ser votado hoje pela Câmara, antecipando em sete dias o prazo dado por Berlusconi para a sua renúncia

O Senado da Itália cumpriu ontem a promessa feita à União Europeia de apertar o orçamento público e aprovou o segundo plano de austeridade do país em 2011, um corte de gastos de € 54 bilhões. Enquanto as medidas de rigor fiscal eram apreciadas, as negociações nos bastidores seguiam intensas sobre a indicação do substituto de Silvio Berlusconi. Como na Grécia, o novo premiê será um tecnocrata ligado a Bruxelas: Mario Monti.

A votação foi realizada no fim da manhã de ontem, em Roma, e antecedeu a apreciação pela Câmara dos Deputados - que deve ocorrer hoje. Com isso, o Parlamento italiano antecipará em sete dias o prazo dado por Berlusconi para a sua renúncia, até então prevista para sexta-feira, 18.

As medidas de austeridade já haviam sido anunciadas em setembro, mas não haviam sido submetidas ao Legislativo - o que enfureceu a União Europeia no G-20 de Cannes, levando à intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) nas contas do país.

O pacote inclui uma receita conhecida dos brasileiros: privatizações, redução do funcionalismo público e aumento da idade mínima de aposentadoria, de 65 para 67 anos até 2026, entre outras medidas. O objetivo oficial é chegar ao equilíbrio fiscal em 2013, mas tanto Bruxelas quanto os investidores duvidam do cumprimento da meta.

É para reduzir as expectativas negativas que o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, vem mobilizando a classe política para definir o nome do novo premiê. Ontem, o chefe de Estado reuniu-se por duas horas com Mario Monti, escolhido senador vitalício nesta semana. Economista e ex-comissário europeu de Mercado Interior (1995-1999) e de Concorrência (1999-2004), sem partido político, Monti é visto como um técnico - a antítese de Berlusconi. Ele foi aplaudido ontem em sua entrada no Senado e caiu nas graças dos mercados financeiros, que já o chamavam de "Super Mario", da mesma forma que Mario Draghi, outro italiano que assumiu a presidência do Banco Central Europeu (BCE) no início do mês.

A expectativa é de que Berlusconi antecipe sua demissão, o que poderia ocorrer neste sábado, e Monti seria escolhido como chefe de um governo de transição no domingo. O desafio de Napolitano e "Super Mario" é reunir membros do Partido da Liberdade (PdL), de centro-direita, e do Partido Democrático (PD), centro-esquerda, em um único governo. Em ambos, a resistência à coalizão persiste.

Pier Luigi Bersani, líder do PD e aspirante ao cargo, pediu a demissão de todo o gabinete e a convocação de eleições. "Nós propomos a descontinuidade total, porque a própria Itália e o resto do mundo querem que o país inicie uma nova fase."

Até ontem, porém, a tendência era a de formação de uma coalizão destinada a resistir até 2013 - data em que deveriam ser realizadas as eleições. Personalidades como Franco Frattini, ministro das Relações Exteriores e um dos expoentes do governo de Berlusconi, apoiam a iniciativa. Em editorial, o jornal Corriere della Sera, o mais importante do país, convocou a classe política à "união nacional". Os dois partidos, afirma o jornal, "teriam o mérito histórico de ter salvado a Itália do precipício, no qual ela corre o risco de cair".

No mesmo sentido, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, elogiaram a iniciativa de Napolitano. "É muito importante que a questão do governo na Itália seja esclarecida a fim de reestabelecer a credibilidade do país", disse Merkel, avaliando que o país está "no bom caminho".

O resultado das negociações em Roma animaram as bolsas em todo o continente. Na bolsa de Milão, o índice MIB subiu 3,68%, enquanto em Frankfurt, em Paris e em Londres os índices DAX, CAC40 e FTSE 100 tiveram alta de 3,22%, 2,76% e 1,85%. Já o ágio cobrado pelos investidores pelos títulos da dívida soberana da Itália com validade de 10 anos caíram abaixo dos 7% - depois de chegar a 7,48% no meio da semana.