Título: Lobby do camarão garante acordo
Autor: Salomon, Marta
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2011, Vida, p. A14

O forte lobby de produtores de camarão garantiu a expansão da atividade em parte dos manguezais, na principal concessão feita em troca da aprovação da reforma do Código Florestal, que não agrada integralmente nem a ruralistas nem a ambientalistas. O acordo, que prevê a recuperação de parte das áreas desmatadas, foi negociado com o aval do governo.

Pelo acordo, os produtores de camarões poderão ampliar sua atividade por até 10% das áreas dos apicuns da Amazônia e 35% dessas áreas no Nordeste. Com a negociação, a produção de sal também ficou liberada nesses limites.

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão, Itamar Rocha, acompanhava as negociações do cafezinho do plenário, lugar reservado a parlamentares e convidados. Defendia a liberação completa da atividade, conforme previa o texto aprovado pela Câmara, mas gostou do acordo. Segundo ele, o negócio movimenta R$ 1 bilhão por ano. A intenção do setor é ampliar em até 50 vezes a área de cultivo, disse Rocha.

Meio termo. A proposta aprovada ontem à noite é um meio termo entre o que defendiam os ruralistas e o que pregavam os ambientalistas. Ela não satisfaz totalmente a nenhum dos grupos.

"Não é o ideal, mas pedimos a todos paciência", discursou a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ao pedir a abertura das galerias para a entrada de produtores rurais acompanharem a votação. A CNA discutia, no entanto, o apoio de ruralistas a uma nova investida de liberar mais áreas para o agronegócio ontem à noite.

"Na verdade, estamos assistindo a uma derrota anunciada. Há uma tentativa de mostrar que o acordo no Senado não anistia desmatadores nem estimula novos desmatamentos. Eu acho que é tudo falso, mas há uma profunda apatia", avaliou Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, no início da votação