Título: A forte desaceleração do PIB no terceiro trimestre
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2011, Economia, p. B2

A divulgação das contas nacionais do terceiro trimestre de 2011 deve ser analisada com cuidado, levando em conta a clara especificação da base de comparação. Nesta análise concentramos maior atenção nos dados do terceiro trimestre em face dos do segundo, procurando captar a evolução da economia entre os dois períodos.

Cumpre assinalar, todavia, que na revisão dos dados anteriores o IBGE manteve, para o ano passado, a taxa de crescimento do PIB de 7,5%, fato importante, pois descarta a necessidade de elevar o salário mínimo em janeiro de 2012, baseado, em parte, no resultado do PIB. As outras modificações foram limitadas, depois das correções. No que se refere ao ano corrente, a única correção importante foi a elevação do PIB do segundo trimestre, de 3,1% para 3,3%

O PIB a preço de mercado do terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior registra não apenas a forte desaceleração, como uma mudança no comportamento da economia. O PIB a preço de mercado na série com ajuste sazonal ficou estável. Na ótica da produção, somente o setor agropecuária exibe crescimento, de 3,2%, enquanto a indústria mostra queda de 0,9% e os serviços, de 0,3%. A indústria sente o avanço das importações e as dificuldades geradas por uma inflação menor do que o aumento da taxa de juros. A elevação do preço dos serviços afetou um setor em que a importação não atua como freio.

Na ótica da demanda, a redução de 0,1% do consumo das famílias, apesar de uma elevação da massa salarial, pode surpreender. Na realidade, é fruto do aumento do endividamento das famílias com a compra de casa própria, pois a construção civil acusa aumento de 0,2%, e também da tentativa de limitar a oferta de crédito neste período do ano.

As despesas de consumo do governo exibem uma queda maior, de 0,7%, que se concentra na redução dos investimentos na infraestrutura, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo apresenta recuo de 0,2%, para o que contribuíram tanto o setor privado quanto as empresas estatais (especialmente a Petrobrás).

Cabe assinalar que as exportações de bens e serviços apresentam aumento de 1,8%, que tem sua fonte principal no aumento do preço das commodities, enquanto as importações de bens e serviços acusam queda de 0,4%, que reflete a valorização do real ante o dólar.

Os dados do terceiro trimestre levam a pensar que este ano será difícil haver um crescimento do PIB superior a 3%, embora o ministro da Fazenda queira se mostrar mais otimista.