Título: Recuperação pode vir com mudança de cenário em 2012
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2011, Economia, p. B3

Os resultados do PIB do terceiro trimestre vieram no "centro das expectativas" da maioria dos analistas: zero. A economia ficou estagnada, o que não pode ser considerado ruim ante os tempos que estamos vivendo. O grau de volatilidade nos mercados, o aumento acentuado na percepção de risco quanto à trajetória da economia mundial e a incerteza aguda principalmente em relação à zona do euro não têm precedentes.

Também não é inesperado, pois os consumidores foram afetados desde o início do ano por uma combinação de inflação crescente e seu remédio amargo: aperto monetário e outras medidas de restrição creditícia, conjugado a uma maior parcimônia fiscal, depois da "festa" de 2010. Herdamos uma economia muito aquecida, rodando a uma taxa insustentável, e pagamos o preço.

Os olhos agora se voltam para o futuro. É provável que observemos uma recuperação já no quarto trimestre, continuando em 2012. O ano corrente não está "contratado", mas quase: o País vai crescer 3% - pouco mais ou pouco menos.

Poderia ter sido diferente? Não, pois o motor da nossa economia é um mercado doméstico cujo dinamismo se explica pela alta do emprego e da renda, apoiado nas transferências governamentais. Mas ao mesmo tempo é sensível à inflação e às condições de crédito, mais adversas neste ano.

O governo - inclusive o Banco Central - não cometeu nenhuma "barbeiragem": a taxa de inflação se distanciou do centro da meta, mas o BC vem lidando de forma eficiente com as pressões inflacionárias, sem empurrar a economia para uma desaceleração mais brusca.

O que nos espera em 2012? Possivelmente um crescimento maior (4%, numa hipótese otimista), e não apenas pelas medidas de afrouxamento creditício e redução de tributos que vêm sendo tomadas, ou ainda uma Selic que deve chegar em meados do ano a 9/9,5%.

Os sinais de retomada da economia americana se acumulam; os líderes europeus - punidos pelo mercado e pressionados pela sociedade - finalmente acordaram para o imperativo de agir de forma tempestiva; e apesar de certas fragilidades da economia chinesa - principalmente no setor imobiliário - a desaceleração será suave, convergindo para um crescimento de 8%.

Ademais, e igualmente importante, um número crescente de economias estão emergindo, e não apenas na Ásia. Não estamos ainda fora das trevas, mas podemos ser surpreendidos por um cenário mais benigno em 2012 do que vislumbrávamos há poucas semanas.