Título: Causa e consequência
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2011, Economia, p. B6

Olhar para o PIB do terceiro trimestre e temer pelo desempenho da economia em 2012 pode ser ao mesmo tempo prudente e equivocado. Da mesma forma que a perda de potência atual decorre de causas anteriores, a performance futura dependerá menos do número divulgado ontem e mais do que ocorre com os fatores determinantes.

Dentre as causas da atual desaceleração, destacam-se as medidas de restrição ao crescimento do crédito que atingiram em cheio o segmento automotivo, além da piora da conjuntura internacional, que reduziu a confiança, desvalorizou ativos e derrubou a demanda por nossas exportações.

Destacamos três motivos para otimismo. Primeiro, o caráter heterogêneo da fragilidade atual está geralmente associado a períodos de desaceleração moderada, ao contrário de recessões, quando a contração tende a ser sincronizada entre setores. O recuo da indústria contrasta com a expansão da construção civil, de serviços e do varejo (excluindo veículos), que continuam gerando empregos. A confiança do empresário tem recuado lentamente, enquanto os consumidores seguem otimistas e o crédito se mantém alto.

Segundo, a agressividade e a proatividade da reação dos formuladores de política, notadamente na área monetária, tende mitigar os efeitos do choque externo. A taxa de juro real de mercado, que na crise anterior atingiu o menor nível (4,8%) apenas em agosto de 2009, um ano após a quebra do Lehman Brothers, já está em 4,1%.

Isso sem contar os incentivos fiscais a setores específicos, a reversão de algumas das medidas de restrição ao crédito, ambos já anunciados, além do arsenal ainda disponível (compulsórios, investimentos em infraestrutura, bancos públicos, etc.).

Por fim, o aumento de 14% para o salário mínimo tende a aumentar a renda das famílias entre 1,5 a 2 pontos porcentuais. O impulso proporcionado sobre o PIB pode chegar a 0,5 ponto porcentual, ante um cenário contra factual, de reajuste do mínimo em linha com a média estimada para a economia.

Não há motivo para comemoração na estagnação do PIB. Mas também não é aconselhável extrapolar este desempenho. Diferentemente de importantes economias desenvolvidas o Brasil tem considerável arsenal para mitigar a crise internacional e voltar a crescer ao redor de 1% por trimestre em 2012.