Título: Aplicações na poupança caem 97,1%
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2011, Economia, p. B9

Cadernetas atraíram R$ 30,6 mi em novembro, pior resultado para o mês desde 2002; no acumulado do ano, a capitação é de R$ 10,5 bi

As novas aplicações na caderneta de poupança despencaram 97,1% em novembro, na comparação com outubro, o que pode indicar que os brasileiros têm tido menos espaço para poupar dinheiro no fim do mês.

Mesmo com o pagamento da primeira parcela do 13.º salário, as cadernetas atraíram R$ 30,6 milhões, o pior resultado para o mês desde 2002 e longe dos valores recentes que giravam na casa do bilhão. Na comparação com novembro de 2010, a queda é ainda maior: 99,2%.

Dados apresentados ontem pelo Banco Central mostram que, mesmo com parte do salário extra no último dia 30, a poupança não teve desempenho tão forte em novembro como nos anos anteriores.

No acumulado de janeiro a novembro de 2011, a captação líquida das cadernetas somou R$ 10,5 bilhões, cifra 67,2% menor que o visto em igual período do ano passado.

"O resultado do mês é anormal. Novembro é um mês geralmente com folga no orçamento familiar graças ao 13º salário. Talvez antevendo esse desempenho, o governo pode ter corrido para incentivar a economia", diz o professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida, ao comentar que ficou surpreso com os dados.

Limite. Na avaliação de Almeida, uma possível leitura dos dados levanta a hipótese de que as famílias estejam guardando menos reais no fim do mês porque a acumulação de dívidas recentes faz com que as parcelas mensais consumam um pedaço cada vez maior do salário.

"Isso pode ser o primeiro sinal de que o endividamento das famílias chegou a um limite. Porque se as dívidas aumentam e cresce o comprometimento da renda, chega um momento em que não há mais como poupar", explica Almeida.

Se essa hipótese for confirmada, o professor diz que a recente medida do governo de incentivar as operações de crédito pode ser entendida como uma "boia de resgate" para quem está nessa situação de grande endividamento porque, com mais oferta de financiamentos, os clientes ganham um bom instrumento para "rolar" as dívidas.

Apesar da surpresa e do alerta, Almeida diz que ainda é cedo para afirmar que os números da economia devem continuar ruins, já que a economia começará a sentir os resultados positivos das medidas de incentivo ao crédito e consumo do governo, além do efeito acumulado da queda dos juros anunciada pelo Banco Central desde agosto.

"É preciso esperar o efeito das medidas de crédito para ver como a inadimplência reage", afirma o professor.

Desaceleração O resultado ruim da captação de investimentos na caderneta de poupança em novembro é um novo indicador econômico que mostra os efeitos da desaceleração da economia.

Recentemente, outros dados da economias brasileira reforçam essa avaliação mais pessimista, como a ligeira retração da massa salarial e o leve aumento da inadimplência.