Título: Santo Antônio terá operação regional
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2011, Economia, p. B15

Primeira turbina fica pronta ainda este ano, mas linha de transmissão que interligará usina com o Sudeste só será concluída no fim de 2012

Apesar dos conflitos trabalhistas e das pressões ambientais, a Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira (RO), vai inaugurar a sua primeira turbina em tempo recorde para padrões brasileiros. Até o fim do mês, a unidade, de 71,6 megawatt (MW), estará em pleno funcionamento - a previsão era 2012. Mas a linha de transmissão que interligará a capital Porto Velho e a região Sudeste só será concluída - se tudo der certo - em novembro de 2012, quase um ano mais tarde que a inauguração da usina.

Até lá, a energia produzida será consumida na região, destaca o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner. A transmissão apenas será possível por meio de um subestação provisória que usará parte das instalações da Coletora de Porto Velho. Mas a capacidade ficará aquém da necessidade, especialmente com a entrada em operação de novas turbinas a cada mês.

De acordo com o relatório de fiscalização da Aneel, até novembro do ano que vem, a expectativa é que 15 turbinas, com potência de 1.074 MW, estejam em operação. "O normal seria planejar os investimentos para que a linha e a usina comecem a operar simultaneamente", afirma o diretor executivo da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Geração de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), Cesar de Barros Pinto.

Segundo ele, o ambiente para a construção de linhas de transmissão mudou radicalmente nos últimos anos. Antes, não eram vistas como obras que provocassem grandes impactos ambientais. "No passado, gastava-se quatro meses para conseguir uma licença de instalação. Hoje, esse prazo subiu para 17 meses."

O primeiro circuito do Linhão do Madeira (serão duas linhas para escoar a energia de Santo Antônio e Jirau), de aproximadamente 2.400 quilômetros, apenas conseguiu licença de instalação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) em meados deste ano. Segundo dados da Aneel, o contrato de concessão foi assinado em fevereiro de 2009 e previa 36 meses para conclusão das obras - ou seja, fevereiro de 2012.

Até agora, no entanto, apenas 22% das obras foram executadas, informou a IE Madeira, consórcio responsável pela construção da linha, que tem como sócios a Cteep, Furnas e a Chesf. A empresa acredita que seja possível recuperar o tempo perdido e finalizar a obra em novembro. "Antes da emissão das licenças, a empresa fez todas as contratações dos insumos, materiais e equipamentos necessários para a construção", destacou o consórcio por meio de comunicado.

Em relação ao segundo circuito, de responsabilidade do consórcio Norte Brasil (Eletronorte, Eletrosul, Abengoa e Andrade Gutierrez), o cronograma geral está dentro do previsto, conforme relatório da Aneel. Mas há uma série de itens em atraso, como licenciamento ambiental e pedidos de compra. A expectativa é que essa linha só esteja em operação em fevereiro de 2013.

Futuro. Segundo o consultor de energia, Abel Holtz, o descasamento entre a entrada em operação das usinas do Madeira e das linhas de transmissão pode se tornar comum daqui pra frente. O problema, critica ele, é que o cronograma está errado. "Licitam as usinas e depois de meses vão decidir como escoar a energia", destaca o especialista.

Holtz diz que a Hidrelétrica de Teles Pires, por exemplo, leiloada em dezembro de 2010, ainda não foi contemplada com nenhum projeto de transmissão. " A construção já foi iniciada e até agora não se sabe onde a linha vai passar." O mesmo pode ocorrer com a usina de Belo Monte, a terceira maior do mundo, com 11.233 MW, no Pará. Nesse caso, o linhão de Tucuruí poderá absorver a produção inicial. Mas especialistas alertam que há necessidade de reforços.

Outro problema poderá surgir no Nordeste, com a enorme quantidade de usinas eólicas em instalação. Uma parcela pequena será consumida na região. O restante virá para o Sul e Sudeste. Para isso, serão necessários investimentos pesados na duplicação das atuais interligações regionais.

Segundo fontes do mercado, o planejamento do sistema de transmissão tem causado mal estar até mesmo dentro do governo federal. Há quem defenda mudanças urgentes.

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