Título: ANP anuncia suspensão das atividades de perfuração da Chevron no País
Autor: Torres, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2011, Vida, p. A24

Todas as atividades de perfuração da empresa Chevron no Brasil foram suspensas ontem por tempo indeterminado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Com a determinação, a companhia norte-americana está proibida de perfurar poços em direção ao pré-sal. A intenção de acessar a camada ultraprofunda foi manifestada pela Chevron em pedido oficial recentemente encaminhado à ANP. De acordo com a agência, não cabe recurso administrativo à decisão.

A empresa - que havia sido acusada de negligência e de mentir sobre o vazamento de óleo desde o dia 7 no Campo de Frade, na Bacia de Campos - requeria autorização da agência para perfurar um novo poço no Campo de Frade, desta vez para atingir o pré-sal. Oficialmente, o poço perfurava a camada pós-sal. A ANP investiga se a empresa tentava chegar ao pré-sal, mesmo sem autorização.

À noite, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, confirmou que "não faltará rigor" na apuração envolvendo o episódio do vazamento de óleo. Segundo Carvalho, a presidente Dilma Rousseff já tomou providências e as áreas responsáveis "estão indo para cima da empresa". Questionado se a Chevron poderia ser impedida de trabalhar, o ministro respondeu: "Não sei, não sou técnico e ainda é cedo. O que eu sei é que toda a seriedade está colocada neste assunto. Não vamos brincar com essa questão. Está em jogo todo o nosso futuro em termos de pré-sal".

As punições à companhia foram tomadas pela direção da ANP, que se reuniu ontem. Segundo comunicado divulgado pela agência após a reunião, "a suspensão das atividades de perfuração no Campo de Frade" vigorará "até que sejam identificadas as causas e os responsáveis pelo vazamento de petróleo e restabelecidas as condições de segurança na área".

"Essa deliberação suspende toda atividade de perfuração da Chevron do Brasil no território nacional", acrescenta a nota.

Como justificativa da rejeição ao pedido da Chevron para investir no pré-sal, a diretoria da ANP informou ter concluído que "a perfuração de reservatórios no pré-sal implicaria riscos de natureza idêntica aos ocorridos no poço que originou o vazamento, maiores e agravados pela maior profundidade". Segundo o comunicado, a suspensão "não alcança as atividades necessárias ao abandono definitivo do poço 9-FR-50DP-RJS e a restauração das condições de segurança".

Causa. A empresa dos EUA manifestou-se sobre a proibição de suas atividades no Brasil com uma frase: "A Chevron vai seguir todas as normas do governo brasileiro e de suas agências".

A causa oficial do vazamento é um procedimento equivocado da companhia na injeção de lama no poço. A pressão do material teria rompido a parede do espaço perfurado. Pela brecha aberta, o óleo vazou e atingiu o oceano, alcançando a superfície, por ser mais leve que a água.

Na ANP, há a suspeita de que o reservatório natural de petróleo pode ter sido atingido, o que torna o acidente mais grave, conforme revelou o Estado ontem. Um rompimento de parede do reservatório complica os procedimentos de contenção do vazamento.