Título: Ministro fez escritório político na empresa
Autor: Portela, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2011, Nacional, p. A7

Pimentel recebeu articuladores da campanha ao Senado na sede da P-21; Lanzetta, envolvido no episódio dos dossiês, era um dos frequentadores

O escritório da P-21 Consultoria e Projetos, empresa do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), foi usado como quartel-general da campanha do petista ao Senado em 2010. A sede da empresa, em um luxuoso prédio do bairro de Lourdes, área nobre na região centro-sul da capital mineira, abrigou encontros com aliados e reuniões com o núcleo de sua candidatura.

O local não era o comitê oficial da campanha, que funcionava na Avenida Afonso Pena, onde Pimentel recebia prefeitos do interior interessados em aderir a sua campanha ao Senado e fazia reuniões para definir as estratégias oficiais para a disputa.

No entanto, era na sede da P-21 que Pimentel se reunia com alguns dos principais articuladores da candidatura. Entre os frequentadores "assíduos" estava, por exemplo, o jornalista e consultor Luiz Lanzetta, proprietário da Lanza Comunicação e amigo do atual ministro.

Lanzetta ganhou notoriedade nacional quando foi obrigado a deixar a campanha presidencial de Dilma Rousseff devido a denúncias de que ele se encontrava com arapongas ligados a serviços secretos do governo federal encarregados de produzir dossiês contra tucanos. O mesmo caso também levou Pimentel a se afastar temporariamente da campanha presidencial.

Um funcionário que trabalhava no edifício onde funciona a sede da P-21 no período da campanha confirmou que aliados de Pimentel frequentavam o escritório, após identificá-los em fotografias. Além de Lanzetta, ele afirmou ter visto no prédio o deputado federal Virgílio Guimarães e o secretário de Obras e Infraestrutura da Prefeitura de Belo Horizonte, Murilo Valadares, no cargo desde a gestão de Pimentel no Executivo municipal.

Hoje, o escritório está praticamente parado. "Na época da eleição, recebiam muitos políticos", afirmou o funcionário. "Também participamos de conversas lá", contou um dos interlocutores do ministro. Ele fez questão de dizer, porém, que quando tiveram início as reuniões políticas no local Pimentel "suspendeu as atividades empresariais".

Questionado sobre a consultoria, Pimentel informou que a última nota fiscal da P-21 foi emitida em agosto de 2010, "quando a campanha pegou fogo".

O governo federal considera as atividades de consultoria de Pimentel distintas das executadas pelo ex-ministro Antonio Palocci, que deixou o cargo sob suspeita de enriquecimento ilícito (veja quadro na página).

Segundo documentos da Junta Comercial de Minas, a P-21 continua ativa, com objeto social de "consultoria, projetos, palestras, cursos e pareceres nas áreas econômica, tributária e de gestão pública". Pimentel consta apenas como sócio, com participação de R$ 19,8 mil no capital social total, de R$ 20 mil. O administrador é Otílio Prado, ex-assessor do prefeito Marcio Lacerda (PSB) , que pediu exoneração do cargo na semana passada.