Título: Por que ir ao Congresso?, diz Pimentel
Autor: Bresciani, Eduardo, Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2011, Nacional, p. A8

Em Genebra para reunião da OMC, ministro diz que já se explicou; mais uma vez, base aliada barra convocação do petista para se explicar

Enquanto a base aliada do governo no Congresso impedia mais uma tentativa da oposição de convocá-lo, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) desembarcava em Genebra, onde participa hoje da abertura da reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). Dizendo-se injustiçado pela polêmica em torno de suspeitas de tráfico de influência, o ministro afirmou que não pretende apresentar-se ao Congresso porque não foi convocado.

"Eu já falei tudo no Brasil, dei todas as explicações. O assunto já está explicado", disse o ministro, ao ser abordado por jornalistas. Questionado sobre sua possível ida ao Congresso, como quer a oposição, deixou claro que essa opção não passa por sua cabeça. "Eu não fui convocado. Por que eu deveria me apresentar? A pergunta é essa: por que é que eu deveria se já dei todas as explicações."

"Eu sou um democrata por convicção. Pela democracia lutei na juventude, fui preso, torturado, de maneira que conviver até com a injustiça faz parte da minha história", disse.

Ontem, a base aliada se mobilizou novamente para impedir a convocação de Pimentel. A oposição pretendia levá-lo à Comissão de Relações Exteriores da Câmara para falar sobre uma resolução que trata de tarifas do Mercosul. Diante das denúncias em torno do ministro, porém, a base rejeitou a ideia.

Em Genebra, Pimentel não disfarçou o mal-estar ao encontrar com a reportagem do Estado no aeroporto. Afirmou que não havia lido os jornais e disse que falaria depois. Já no local onde seriam realizadas as reuniões da OMC, continuou evitando o tema das denúncias. Falou de tarifas para carros, câmbio e previsão de comércio.

Vulgarização. "Devemos ter cuidado com a vulgarização da desestabilização de homens públicos que se dedicam ao país", justificou o deputado Henrique Fontana (PT-RS) ao defender a iniciativa da base de blindar o ministro e evitar a convocação.

Autor do pedido para que Pimentel preste esclarecimentos, o deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ) criticou os governistas e lembrou que outros ministros "blindados", como Antonio Palocci, acabaram caindo. "Não foi impedindo a convocação que se garantiu a permanência deles. Todos caíram", disse.

O deputado Mendes Thame (PSDB-SP) destacou que rejeitar a convocação de Pimentel o fragiliza. "Se toda vez que um ministro estiver sob suspeita não puder vir, nós criamos uma situação inacreditável. Se o ministro não pode vir para falar de nada, ele fica reconhecidamente como um pato manco".

Negromonte. Convocado para depor na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP) não compareceu à sessão ontem. Suspeito de conivência com suposta fraude de laudos no ministério, Negromonte alegou que teria "reunião ministerial".