Título: Louco por futebol, general desejava ser popular
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2011, Nacional, p. A11

É HISTORIADOR, JORNALISTA DO ESTADO - O Estado de S.Paulo

O general Emílio Garrastazu Médici tinha especial preocupação com sua imagem. Ao assumir a Presidência, em outubro de 1969, ele declarou: "Espero que cada brasileiro faça justiça aos meus sinceros propósitos de servi-lo e confesso lealmente que gostaria que meu governo viesse, afinal, a receber o prêmio de popularidade".

De fato, Médici foi o único dos ditadores do governo militar a ter uma cota considerável de popularidade pessoal, cultivada cuidadosamente por ele a despeito dos esforços da máquina de propaganda do regime para evitar a personalização do poder. Ajudou muito o momento econômico do País, que caminhava para ter pleno emprego e cujo PIB se expandia em ritmo de dois dígitos.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que então era líder sindical, atestou essa qualidade em entrevista ao historiador Ronaldo Costa Couto, no livro História Indiscreta da Ditadura e da Abertura (Record, 1999). "Hoje a gente pode dizer que foi por conta da dívida externa, milagre brasileiro, e tal, mas o dado concreto é que, naquela época, se tivesse eleições diretas, o Médici ganhava. E foi no auge da repressão política mesmo, o que a gente chama de período mais duro do regime militar. A popularidade de Médici no meio da classe trabalhadora era muito grande."

Mas só o "milagre" econômico não explica essa faceta de Médici. Ele era um fanático torcedor de futebol e construiu uma identidade natural com esse esporte - que, nos anos 70, se tornou a gasolina da integração nacional, eixo do projeto desenvolvimentista dos generais. Ao festejar a conquista do tricampeonato mundial pelo Brasil na Copa do México, Médici resumiu seu desejo: "Na hora em que a seleção nacional de futebol conquista definitivamente a Copa do Mundo, após memorável campanha, na qual só enfrentou adversários do mais alto valor, desejo que todos vejam, no presidente da República, um brasileiro igual a todos os brasileiros".