Título: A mais silenciosa das cidades mudas
Autor: Scheller, Fernando ; Vignola, Ayrton
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2011, Economia, p. B22/23

Entre as cidades "mudas" do Paraná, Paulo Frontin, localizada no alto de um morro, era de longe a mais silenciosa. Paula Freitas, que fica a menos de 30 quilômetros de distância, tem a sorte de ter o centro bem próximo à BR 153, que tem cobertura da Claro. Isso facilitou a vida dos moradores, que tinham mais sucesso ao "tomar emprestado" o sinal da rodovia e conseguiam usar o celular com mais frequência. De qualquer forma, Paulo Frontin, Paula Freitas e Antônio Olinto passarão a ser atendidas pela Vivo, pois a empresa terá de chegar às três cidades para cumprir um acordo com a Anatel.

Antônio Olinto corre o risco de viver uma situação inusitada: passar de nenhum sinal para a escolha entre duas operadoras em questão de meses. Isso porque uma antena da Claro já está em funcionamento no município. Atemilton Sauka, que vende enxoval de porta em porta e era cliente da Vivo, conta que teve de comprar um chip da Claro ao se instalar na cidade, há 20 dias. Sauka diz que mantém o número da Vivo para viagens, pois é responsável por uma microrregião que inclui um polo regional do sul paranaense, São Mateus do Sul.

Sauka, ex-cantor sertanejo que fez sucesso nos anos 80 com a dupla Rouxinol & Sabiá, diz que escolheu Antônio Olinto para morar por causa do custo de vida: o aluguel é barato e é possível ir a um bar e comprar uma latinha de cerveja por menos de R$ 2. Para ajudar a criar os 12 filhos, um reflexo da vida errante de cantor pelas boates do interior do País, ele hoje usa a lábia de galã sertanejo para convencer as moças da região a comprar colchas, lençóis e toalhas em preparação para o casamento. "Meu argumento de venda é o seguinte: se você comprar o enxoval, eu arrumo o noivo."

Como vende os produtos a prestação, na base da confiança, especialmente no "interior" - expressão usada na região para definir a zona rural -, o celular acaba sendo vital para o negócio de Sauka, que não se importa em continuar a ser chamado de Rouxinol, apesar de a dupla já ter passado por diversas formações desde que ele desistiu da carreira, nos anos 90. O caixeiro viajante diz que o sinal da Claro, apesar de disponível, está longe de ser perfeito para quem trabalha na zona rural - lá, ainda é preciso subir em árvores para fazer uma chamada. "Como não adianta ligar, preciso ir à casa dos clientes para receber a mensalidade. Muitas vezes, fico na mão."