Título: Caso Pimentel já ameaça pacto eleitoral
Autor: Portela, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2011, Nacional, p. A8

Em meio às denúncias contra ministro, guerra PT-PSDB deve atrapalhar aliança de ambos em torno da reeleição de Márcio Lacerda (PSD)

As denúncias contra o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) geraram uma guerra de acusações entre PT e PSDB que pode repercutir na aliança dos partidos em torno da reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), em 2012, e na sucessão ao governo, em 2014.

Petistas e tucanos se acusam mutuamente de estarem por trás da divulgação de informações sobre os serviços de consultoria prestados por Pimentel, assim como de suspeitas de irregularidades no período em que o ministro comandava o Executivo da capital mineira e que ainda estão sob investigação.

A primeira suspeita do núcleo político da presidente Dilma Rousseff é que as denúncias sejam fogo amigo, com origem no vice-prefeito de Belo Horizonte, Roberto Carvalho, e no deputado estadual Rogério Correia, ambos do PT. Os dois são favoráveis a uma candidatura própria em 2012 e radicalmente contrários à aliança com o PSDB em torno de Lacerda, posição defendida por Pimentel.

"O ministro tem certeza que partiu do Roberto (Carvalho), porque os dados publicados saíram de dentro da prefeitura, com grande riqueza de informações. Mesmo com muita suspeita, eu acredito que não", afirmou um interlocutor próximo de Pimentel. "O Rogério (Correia) pode ter sido motivador da coisa, mas não tem acesso à prefeitura", acrescentou.

Roberto Carvalho, que afirma ser amigo do ministro, negou qualquer relação com o vazamento das informações e atribuiu a integrantes do PSDB as denúncias e até as informações que levaram à suspeita de fogo amigo. "Isso é típico dos tucanos: plantam uma informação e jogam a responsabilidade para os outros", afirmou.

A postura é a mesma de Rogério Correia, que acusou o senador Aécio Neves (PSDB) de estar por trás das denúncias para tentar enfraquecer o nome de Pimentel para uma possível disputa eleitoral ao governo de Minas em 2014, contra um candidato do governo, atualmente nas mãos dos tucanos.

"É dessa forma que o Aécio faz seus ataques. Põe alguém para fazer as denúncias, para não se envolver diretamente. Eu nunca seria capaz de fazer algo assim e estou totalmente solidário com o ministro", disse. "Espero ao menos que isso sirva para que ele saiba escolher melhor suas alianças no futuro."

O deputado se refere à parceria que Pimentel e Aécio fizeram, quando o petista era prefeito e o tucano governador de Minas, para a eleição de Marcio Lacerda (PSB), assim como à nova aliança que deve ocorrer em torno do socialista no ano que vem.

Proveito. Outro petista próximo ao ministro afirmou não acreditar que o vazamento tenha partido de dentro do PSDB, mas avalia que o tucanato "tira proveito" do caso. "A coisa nasce em algum lugar. E depois que entra numa engrenagem, todo mundo que pode tira proveito. E enfraquecer o Fernando (Pimentel) é ótimo para o Aécio, porque ele é hoje o único nome natural do PT", ressaltou, referindo-se à sucessão ao governo em 2014.

"O Pimentel é o nome mais cotado para a disputa, mas, dependendo dos desdobramentos desse caso, ele perde essa condição natural", confirmou outro aliado do petista em Minas.

Procurada pelo Estado, a assessoria de Aécio não respondeu até o fechamento desta edição. Mas, para reforçar as suspeitas sobre os petistas, o PSDB da capital mineira destaca que as informações sobre os contratos da gestão Pimentel só poderiam ter saído de dentro da prefeitura.

"Os dados são internos, documentos de dentro da própria administração municipal. Há todos os contornos de uma nova disputa interna dentro do partido do ministro", avaliou o deputado estadual João Leite, presidente municipal do PSDB. "Da nossa parte, não houve absolutamente nada. Não temos acesso a essas informações."

O tucano, no entanto, avalia que as denúncias divulgadas até agora são apenas "a ponta do iceberg". "Foi uma gestão temerária, com muitas situações que precisam ser apuradas", disse. Ele descarta qualquer interesse do PSDB em abalar sua aliança com o PT de Pimentel e atribui a campanha a uma ala petista. "O PSDB entrou no entendimento: não tem uma grande participação na prefeitura do Marcio Lacerda, mas caminhávamos para a manutenção do acordo."

O presidente do PSB mineiro, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, também afirmou que os ataques a Pimentel não vão influenciar na aliança para a reeleição do prefeito e avaliou que, independentemente de uma possível tentativa de desestabilizar o acordo o projeto está mantido.

Fato consumado. "Há uma predominância natural do grupo petista, muito competente, que já estava na prefeitura. Mas a aliança já existe hoje. É um fato. Nossa posição é de que esse caso não prejudica em nada. Tenho relação pessoal com o Pimentel e temos ótimas relações com os dois lados", declarou Walfrido dos Mares Guia.

Segundo o ex-ministro, essa foi uma tentativa frustrada de tentar abalar a parceria e Walfrido afirma que, depois de a aliança ser firmada, "tudo se acerta".

"Quando o caminhão arranca dá um certo barulho, mas depois todo mundo se acerta. Fogo amigo ou inimigo, é tudo futrica de uma mente muito torpe. Mas política tem um conteúdo de futrica. Não é para gente de calça curta", concluiu o ex-ministro, ressaltando acreditar que todos os envolvidos são "politicamente maduros o suficiente" para saberem superar os atritos.