Título: Petista cita jogo político pesado, mas depois recua
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2011, Nacional, p. A4

Texto com menção a rivalidade partidária é retirado de site pessoal de Pimentel meia hora depois de ir ao ar

Diante da divulgação de informações sobre as atividades de sua empresa de consultoria e sobre os contratos assinados em sua gestão na Prefeitura de Belo Horizonte, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) classificou de "jogo político pesado" as suspeitas de tráfico de influência que pesam sobre ele.

Em carta divulgada em seu site, Pimentel não cita nomes, mas insinua que adversários alimentam uma campanha contra ele. Minutos depois de o Estado ter acesso ao texto original, trechos foram apagados e o tom do contra-ataque minimizado numa segunda versão.

Foi a primeira manifestação pública do ministro sobre as suspeitas de que ele seria alvo de "fogo amigo" de setores do PT mineiro descontentes com suas articulações políticas ou de nomes do PSDB que tentariam enfraquecê-lo. Petistas e tucanos, que integram uma aliança política na capital mineira, atribuem uns aos outros a autoria das denúncias. Até ontem, o ministro se limitara a justificar o trabalho da P-21 Consultoria e Projetos.

"Os fatos que apresentei e as explicações que prestei (...) são acachapantes, não a onda de suspeições que acaba emergindo em meio a um jogo político pesado", escreveu o ministro, na versão inicial da carta. "Sabemos todos que o jogo político muitas vezes se vale do bom jornalismo para tentar manchar biografias limpas."

Retirado. O trecho acima constava do texto acessado pelo Estado às 8h30 de ontem. Meia hora depois, ele foi retirado do ar e as duas frases foram apagadas. Segundo a assessoria do ministro, a carta publicada anteriormente seria apenas "um rascunho".

Na versão final, Pimentel adota uma crítica mais leve. "É preciso cautela para que o jogo político não termine por contaminar o livre exercício de um direito. Para que esse direito não seja usado para atingir biografias respeitáveis", reescreveu o ministro.

A publicação do texto é uma tentativa de Pimentel de mostrar que está "disponível para prestar qualquer esclarecimento", como anunciava a chamada na abertura do site. O ministro afirma que a carta serve para "evitar que eventuais ruídos prejudiquem as informações".

Pimentel voltou a defender suas atividades ao dizer que os trabalhos da empresa foram realizados após sair da prefeitura e antes de assumir o ministério.

"Entre 2009 e 2010, período em que a P-21 funcionou, não ocupava qualquer cargo público. A empresa não manteve, nestes dois anos, qualquer contrato com os governos municipal, estadual ou federal", diz o texto. "Minha atividade profissional foi regular, legal e útil aos meus clientes - ao contrário do que a leitura de reportagens publicadas podem fazer crer."

CRONOLOGIA

Os negócios do ministro

4 de dezembro

Segundo o jornal a Globo, Pimentel recebeu R$ 2 milhões de consultarias entre 2009 e 2010, por meio da P-2l.Os seus principais clientes foram a Fiemg e a construtora mineira Convap, A Fiemg pagou R$ 1 milhão pelos serviços, em 2009, e a construtora, outros R$ 514 mil, no ano seguinte.

6 de dezembro

Nova denúncia do jornal a Globo mostra que a P-21 recebeu R$ 400 mil daQA Consulting. Um dos donos da empresa é Gustavo Prado, filho de Otílio Prado, sócio de Pimentel na P-21. Em seguida, a QA Consulting foi contratada pela HAP Engenharia, acusada de superfaturar obra durante a gestão Pimentel.

7 de dezembro

O jornal Folha de S.Paulo denuncia que a QA Consulting havia prestado serviço para a prefeitura entre 2005 e 2009. Otílio, que era assessor de Pimentel nai prefeitura, continuou no gabinete de Márcio Lacerda

8 de dezembro

Estado revela que TCU viu falhas em contrato firmado entre a prefeitura de Belo Horizonte e Fiemg, que traria um prejuízo de R$ 300 milhões aos cofres públicos.

9 de dezembro

Estado mostra que a principal doadora da campanha de Pimentel em 2010, a Camargo e Corrêa, está na mira do MPE por suspeita de superfaturamento em contrato firmado.

AS SENTENÇAS

•Natan Donadon

(PMDB-RO)

O parlamentar foi condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias de prisão em regime fechado, além de pagamento de multa, pelos crimes de peculato e formação de quadrilha

• Asdrúbal Bentes

(PMDB-PA)

Acusado de negociar votos em troca do pagamento de cirurgias de laqueadura para eleitoras, foi condenado a 3 anos, 1 mês e 10 dias de prisão, em regime aberto, pelo crime de esterilização cirúrgica irregular, previsto na Lei de Planejamento Familiar

• José Tatico

(PTB-GO)

Foi condenado a 7 anos de prisão em regime semiaberto e 60 dias multa pela prática dos crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária

• Zé Gerardo

(PMDB-CE)

Condenado a 2 anos e 2 meses de detenção por crime de responsabilidade - quando prefeito de Caucaia (CE), o deputado teria usado de forma irregular RS 500 mil de um convênio com o Ministério do Meio Ambiente, em 1997. A pena foi convertida no pagamento de multa no valor de 50 salários mínimos e prestação de serviços à comunidade

• Cássio Taniguchi

(DEM-PR)

Condenado a duas penas de 3 meses de detenção pela prática dos crimes de responsabilidade. O STF, no entanto, declarou a prescrição dos crimes