Título: Sem o Reino Unido, EU fecha acordo para resgate e abre era da austeridade
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2011, Economia, p. B1

Depois de dois anos de crise, a União Europeia aprofunda sua integração para tentar salvar o euro. Um pacto fiscal foi acertado, exigindo que todos equilibrem as contas. Mas, se de um lado o acordo histórico pode impedir o fim prematuro da moeda única, politicamente revelou a profunda divisão entre as maiores potências eurapeias, com a exclusão do Reino Unido do entendimento. O acordo ainda inaugurou uma era da austeridade para as próximas décadas e marcou o fim de um modelo econômico.

Com punições a quem não coloque as contas em dia, controle sobre os orçamentos, fortalecimento do Fundo Monetário Internacional (FMI) no resgate da UE e um novo mecanismo de € 500 bilhões para frear o contágio, o entendimento é visto como a última esperança dos europeus para que o bloco ponha fim às dúvidas sobre a capacidade dos países em honrar seus compromissos.

A UE acumula dívidas de US$ 12 trilhões. Portugal e Irlanda tiveram de ser socorridos e a Grécia decretou moratória parcial.

O acordo será fechado até março, quando os 26 países que aceitaram fazer parte do pacote precisam começar a incluir em suas Constituições a exigência de não ter déficits. Não será um trabalho fácil. Desde 1974, todos os governos europeus estão vivendo além de suas capacidades financeiras.

Para economistas como Joseph Stiglitz e Paul Kmgman, porém, o acordo ameaça aprofundar a recessão em 2012 e abafar o crescimento europeu por anos. O FMI e o Banco Central Europeu (BCE) se apressaram em elogiar o entendimento, em um sinal de que continuarão a comprar títulos das dívidas dos países em dificuldade.

A chanceler alemã, Angela Merkel, saiu como a grande vitóriasa e com uma Europa sob sua lei. Conseguiu ainda enterrar o projeto de emissões de eurobônus, mantendo o caixa fechado.

N o outro extremo, o Reino Unido deixou Bruxelas mais isolado que nunca. O britânico David Cameron apostava que sua ameaça de vetar o tratado forçaria a França e a Alemanha a liberar o sistema financeiro inglês das exigências. A dupla francoalemã optou por driblar Cameron. Abandonou a ideia de um novo tratado e criou novas regras a partir de um acordo intergovernamental.

• A atitude do inglês foi duramente criticada. "Se eles querem ter um papel central na Europa, têm de fazer parte das políticas comuns", disse o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker.

Os mercados respiraram aliviados com o acordo. Mas sem euforia. Sabem que, se o acordo estabiliza o paciente, ainda é cedo para dizer se será suficiente para voltar a garantir o crescimento da UE e criar empregos para mais de 23 milhões de pessoas no continente.