Título: Austeridade sim, mas sem ajuste externo nada feito
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2011, Economia, p. B4

O acordo alcançado pelos países da União Europeia, com exceção do Reino Unido, para reforçar a disciplina e a supervisão fiscal na região, dá uma sobrevida ao euro. Sua principal vantagem é oferecer argumentos para uma ação mais desenvolta do Banco Central Europeu (BCE), em cooperação com o Fundo Monetário Internacional (FMI), no socorro das economias locais encalacradas. Mas pode não ser a solução definitiva para as dificuldades estruturais da economia europeia.

A chanceler alemã Angela Merkel, secundada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, conseguiu impor ao bloco a visão de que a crise do euro é principalmente fiscal. O plano que engendraram e acabou prevalecendo foca em medidas de austeridade.

Vozes influentes no debate econômico global, no entanto, insistem que a crise reflete, antes de tudo, problemas de balanço de pagamentos. Martin Wolf, o prestigiado colunista do Financial Times, por exemplo, bate nessa tecla há muito tempo. Números sustentam seu ponto.

Na década passada, até 2007, limiar do colapso do ano seguinte, todos os países da zona do euro, exceto a Grécia, mantinham déficits fiscais abaixo de 3% do PIB. Cumpriam, portanto, o acertado nos acordos de Maastrich, base institucional da União Europeia e da futura moeda única.

Quanto à dívida pública, os mais vulneráveis, além da inevitável Grécia, eram Portugal, Itália e Bélgica. Os hoje problemáticos Espanha e Irlanda exibiam posição melhor do que a Alemanha. Já a lista dos países com maiores déficits em conta corrente era liderada justamente pelas economias agora na berlinda: Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. Dá o que pensar.

Na situação atual, colateral de 2008, impossível evitar programas de austeridade. Mas, sem que os países com superávits externos, caso da Alemanha, concordem em promover políticas domésticas expansionistas, será limitado o espaço para o crescimento.