Título: BNDES terá reforço de R$ 15 bilhões
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2011, Economia, p. B14

Empréstimo do Tesouro vai financiar a compra de uma fatia da EDP pela Eletrobrás; em 2012, banco receberá mais R$ 10 bilhões

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá receber na próxima semana um empréstimo de R$ 15 bilhões do Tesouro Nacional. O novo repasse vai reforçar o caixa do BNDES para alavancar operações de crédito importantes, como o apoio à Eletrobrás para que a empresa possa adquirir a fatia do governo português na companhia Energias de Portugal (EDP).

Outra parcela de R$ 10 bilhões será liberada em 2012, disse ontem uma fonte à Agência Estado. O dinheiro é parte do empréstimo de R$ 55 bilhões aprovado em abril deste ano no Congresso. Até agora, em ritmo de desaceleração dos desembolsos, o banco só pegou R$ 30 bilhões.

As negociações sobre a participação da Eletrobrás na disputa pela fatia de 21,35% da EDP foram tema das reuniões de quinta-feira do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, com o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e depois com a presidente Dilma Rousseff.

Ontem, a Eletrobrás e as outras três interessadas pela fatia da companhia posta à venda pelo governo português entregaram os envelopes. Entre as concorrentes estão a brasileira Cemig, a alemã E.ON e a chinesa China Three Gorges.

O BNDES já definiu alternativas para apoiar a oferta da Eletrobrás no Brasil, já que não houve tempo para montar uma operação de financiamento no exterior. Segundo fonte do banco, o governo publicou um decreto no dia 6 sob medida para a operação da Eletrobrás, autorizando instituições financeiras a usar recursos do exterior para financiar empresas brasileiras na compra de ativos em outros países. Mas o BNDES ainda precisa alterar a política operacional para aplicá-lo.

O empréstimo do Tesouro dá mais folga ao BNDES para financiar a estatal no negócio, já que o montante necessário é inferior a R$ 5 bilhões, diz a fonte. Com o apoio do BNDES, a Eletrobrás entrou na disputa com mais cacife para tentar fazer frente aos chineses, embora o governo brasileiro tenha consciência de que é difícil disputar com eles nas cifras.

A principal aposta na vitória da Eletrobrás está no cumprimento das exigências dos portugueses quanto à política industrial de compras locais ou condicionantes em relação à governança da empresa, o que os adversários asiáticos teriam dificuldades para cumprir. Eles seriam vistos como predatórios pelo governo português.

O BNDES não vê na Cemig a mesma capacidade da Eletrobrás para dar esse passo no exterior, por isso não está apoiando a proposta da mineira. A prioridade é a Eletrobrás, cuja missão de aumentar a sua escala o BNDES ganhou ainda do governo Lula. Porém, fontes no mercado contaram que a Cemig espera contar com o banco em caso de vitória para alongamento da dívida de R$ 6,5 bilhões resultante da estrutura financeira que montou para fazer a oferta.

Executivos da Cemig teriam conversado com técnicos do BNDES sobre a possibilidade de usar o financiamento no exterior mais adiante, na segunda fase da engenharia financeira. Ontem, no Rio, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), disse que a decisão sobre a oferta pela fatia da EDP coube à direção da Cemig, mas ressaltou que, como principal acionista, o governo mineiro recomendou uma análise cautelosa dentro dos critérios estratégicos definidos pelo seu conselho para formular a oferta.

As quatro propostas entregues pelas interessadas deverão chegar ao governo português na terça-feira. A intenção de Portugal é definir o vencedor ainda este ano. / COLABORARAM CYNTHIA DECLOEDT E ALFREDO JUNQUEIRA