Título: Divergências entre Alemanha, França e Reino Unido dificultam acordo na UE
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2011, Chade, Jamil, p. B1

A Alemanha rejeita um rascunho de um acordo europeu preparado pela União Europeia (UE), enquanto a França ameaça excluir o Reino Unido de um acordo final. Com isso, a cúpula da UE, que havia sido convocada para salvar o euro, é tomada pela tensão e por incertezas.

Ontem, alemães, franceses e britânicos - as três maiores economias da Europa - se desentenderam sobre como refundar a UE, enquanto as negociações entravam pela madrugada e países pequenos do bloco se rebelavam contra as grandes potências.

Em seu primeiro dia, a cúpula decisiva escancarou as divergência do bloco e foi um espelho de dois anos de uma crise de liderança na UE. Todos os 27 países chegaram a um acordo de princípios de que um maior rigor orçamentário e união fiscal devem existir no bloco para salvar a moeda única. Mas esse entendimento escondia uma verdadeira batalha política.

Alemanha e França querem um acordo que prevê uma repressão nos orçamentos nacionais, mas com o poder de punir quem descumprir o acordo. Para isso, querem um novo tratado na UE.

Ameaça de veto. O primeiro golpe à proposta veio do primeiro-ministro britânico, David Cameron. Ele ameaçou Merkel e Sarkozy de que vetaria o acordo, alegando que criaria apenas para os países da moeda única um governo econômico europeu. Sua percepção é de que a indústria financeira britânica seria prejudicada e pediu para blindá-los de qualquer nova exigência criada no novo tratado em relação a bancos.

Numa discussão acirrada, Sarkozy classificou a proposta de Cameron de "inaceitável" e disse ao britânico que, se ele não concordasse, assinariam um acordo com os 17 países que usam o euro, deixaria Londres de fora e não fecharia um entendimento com os 27 membros da UE. Já pela madrugada, a tese de um acordo apenas entre 17 países ganhava força.

Mas o maior golpe veio da Alemanha. Perto da meia-noite, um rascunho de acordo foi apresentado pela UE, reunindo a posição dos países. Merkel disse não, irritando países menores.

O texto previa a criação de eurobônus para resgatar países com problemas, como pediam Espanha e Itália. Berlim considera a possibilidade de ajudar economias um incentivo para o não cumprimento das regras de disciplina. Horas antes, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, já havia derrubado os mercados ao anunciar que seguiria a posição da Alemanha e não emitiria eurobônus para resgatar países.

Merkel ainda rejeitou a ideia de usar um fundo de resgate paralelo ao já existente, o que elevaria o poder de fogo da UE a 900 bilhões, para ajudar bancos, e deixou claro que quer sair hoje de Bruxelas com uma nova Europa refundada, mas à sua imagem.