Título: Copom sinaliza com novos cortes da Selic
Autor: Nakagawa, Fernado
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2011, Economia, p. B9

Ata da última reunião do BC admite que País já sofre contágio europeu e diz que inflação está convergindo para a meta de 4,5% no ano que vem

O Banco Central admite que a crise internacional contagiou o Brasil.

Se até outubro o Comitê de Política Monetária (Copom) tratava a contaminação apenas como uma possibilidade, a ata da última reunião do grupo mostra que o fenômeno já está em curso e, segundo o BC, ajudará a reduzir o ritmo da inflação em 2012 para um patamar próximo de 4,5%, no centro da meta. Por isso, houve espaço para cortar o juro pela terceira vez seguida na semana passada, para 11% ao ano.

Diante da aposta que os preços tendem a desacelerar ainda mais nos próximos meses, o BC reforçou a expectativa dos economistas de que é possível reduzir o juro mais vezes até que a taxa Selic tenha um dígito em 2012. Os cortes, somados às medidas de incentivo ao crédito, tentam reanimar a economia que ficou estagnada no terceiro trimestre. O plano é baratear financiamentos para levar famílias às compras e, assim, amenizar o efeito da crise.

Divulgada ontem, a ata do encontro da semana passada, mostra que as preocupações do BC com a inflação são decrescentes. Mesmo com o IPCA acima da meta em 12 meses - alta de 6,64%, acima do limite de 6,50% - o comitê reafirmou que o pico da inflação aconteceu no terceiro trimestre e que, agora, os preços começam a "recuar na direção da trajetória de metas". Por isso, o BC acredita em inflação "ao redor do valor central da meta" em 2012, abaixo do que foi indicado na ata da reunião anterior, em outubro, quando a previsão estava "acima do valor central".

Parte dessa desaceleração pode ser atribuída à influência da crise externa. Com a crise internacional, diminuem as compras em todo o mundo e preços começam a cair. A retração é sentida no Brasil, por exemplo, via produtos básicos - as chamadas commodities. Só em novembro, o preço médio desses produtos caiu 1,7%, segundo o BC. O movimento é potencializado com a atividade doméstica estagnada.

Conforto. "O alívio da inflação, mesmo que gradual, dará mais conforto para o Comitê seguir com sua política de cortes moderados, ao longo das próximas três reuniões, levando a Selic para 9,5%", prevê o diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, em relatório.

Assim como o Bradesco, outras instituições reforçaram ontem a aposta que o juro deve continuar em quedas moderadas de 0,50 ponto nos primeiros meses de 2012, o mesmo ritmo visto desde agosto. Portanto, o texto enterrou, pelo menos por enquanto, a hipótese que a dose dos cortes poderia aumentar. Quedas mais fortes só devem vir em caso de "ruptura" do quadro externo, como o calote da dívida de algum país europeu ou quebra de instituição financeira.

Juros mais baixos devem alavancar a os empréstimos e estão alinhados com o plano do governo de acelerar a economia via crédito. Com a estratégia, o BC mudou a avaliação sobre o futuro dos financiamentos.

Até outubro, previa "moderação na expansão" dessas operações. Agora, passou a trabalhar com "expansão moderada". Ou seja, previa pé no freio e atualmente espera aceleração.

A ata mostra que os juros menores seguem como operação principal na política do BC. Porém, outras opções estão na mesa. Entre economistas, cresce a expectativa que o governo possa usar outros instrumentos que reduzem o custo dos financiamentos e aumentam a oferta de crédito, como a liberação de parte dos depósitos compulsórios - parcela do depósito dos clientes que é mantida no BC.