Título: Depois do monólogo político, Putin agora terá de escutar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2011, Internacional, p. A10

Não está claro se os protestos serão efetivamente ouvidos ou se serão simplesmente ignorados

Mikhail Metzel/APProtestos contra Putin e seu partido que eclodiram no sábado em mais de 60 cidades Durante uma dúzia de anos à frente do poder na Rússia, Vladimir Putin comandou o espetáculo, mas agora poderá ter de aprender a escutar e ficar relegado a um segundo plano. Os protestos contra Putin e seu partido que eclodiram no sábado em mais de 60 cidades russas, incluindo uma concorrida manifestação a poucos quarteirões do Kremlin, parecem ter abalado um homem acostumado a dar ordens, a fazer pregações a jornalistas e a detratar opositores com comentários sarcásticos e, não raro, vulgares.

Não está claro se os protestos serão efetivamente ouvidos ou se serão simplesmente ignorados a menos de três meses das eleições presidenciais, nas quais Putin aspira a voltar a ocupar o cargo que exerceu de 2000 a 2008.

O presidente Dmitri Medvedev concordou em deixar a presidência no próximo ano, abrindo caminho para o retorno de Putin. O acordo, anunciado como fato consumado em setembro, foi considerado uma manobra cínica que lançou sombras sobre o futuro político de Putin.

Sondagens da respeitada agência independente Centro Levada indicam que, em fins de setembro, 42% dos russos teriam votado em Putin na eleição presidencial de março, embora a porcentagem tenha baixado para 31% dois meses depois. Isso foi antes de sua imagem ser mais deteriorada pela eleição parlamentar do dia 4, na qual o Rússia Unida perdeu uma parcela substancial dos assentos e os observadores disseram que mesmo esse número foi aumentado por fraude eleitoral. Indignada com essa fraude, a oposição, até então marginalizada, criou coragem e se embrenhou em protestos.

Durante o governo de Putin, as autoridades russas rotineiramente negavam autorização para grupos opositores realizarem manifestações ou limitavam o comparecimento a algumas centenas. As tentativas de realizar protestos não autorizados geralmente terminavam com intervenção policial e detenções em massa. No entanto, a maioria das manifestações do sábado contou com permissão oficial. Isso indicou que Putin, quer esteja ou não escutando, está claramente preocupado com a fragilização da sua posição e sente que tem muito a perder se apelar para a repressão costumeira. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK