Título: Benefícios para a medicina vão além do uso clínico
Autor: Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2012, Vida, p. A11

É REPÓRTER DE CIÊNCIA DO GRUPO ESTADO - O Estado de S.Paulo

Dentre as muitas possíveis aplicações das células-tronco embrionárias (CTEs), a possibilidade de usá-las diretamente no corpo humano, como células regenerativas para o tratamento de doenças e lesões, sempre foi a mais atraente. Indiferenciadas, as CTEs são como células curingas, que podem ser induzidas a se transformar em qualquer tecido do organismo - cardíaco, neurológico, etc. Uma capacidade que as qualifica como candidatas a uma grande variedade de aplicações terapêuticas. Tão grande que muitos passaram a vê-las - equivocadamente - como cura milagrosa para tudo.

Muitos cientistas compartilharam desse entusiasmo e dessa esperança. E por isso brigaram tanto para garantir que as pesquisas com CTEs não fossem proibidas. Outra coisa que sempre foi defendida, mas nunca recebeu tanta atenção pública, foi a importância das CTEs como modelos de pesquisa in vitro para a compreensão de processos celulares e moleculares essenciais. As células-tronco embrionárias podem contribuir muito para a medicina sem precisar, necessariamente, serem injetadas em ninguém. São ferramentas fantásticas de pesquisa básica e aplicada sobre os processos de diferenciação celular que regem o desenvolvimento humano - tanto na saúde quanto na doença.

Sua aplicação terapêutica direta tem grande potencial, sim, mas carrega uma série de riscos de origem biológica (como a possibilidade de se tornarem células cancerígenas, fora de controle) e de complicações éticas relacionadas ao uso de embriões. Não é à toa que o projeto da Advanced Cell Technology é o único estudo clínico em andamento com aprovação da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos. Os obstáculos científicos e legais são grandes.

O mais provável é que o uso das CTEs fique mais restrito mesmo aos laboratórios e que outros tipos de células "curinga", como as células-tronco adultas e de pluripotência induzida (iPS) - com potencial semelhante ao das CTEs, porém menos complicações - ganhem preferência nas apostas de aplicações clínicas futuras. O que não significa que as células embrionárias perderão importância para a biomedicina. Só não haverá o milagre que tanta gente esperava.

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